Filme do Dia: Trabalhar Cansa (2011), Marco Dutra & Juliana Rojas
Trabalhar Cansa (Brasil, 2011). Direção e Rot.
Original: Marco Dutra & Juliana Rojas. Fotografia: Matheus Rocha. Música:
Rafael Cavalcanti. Montagem: Caetano Gotardo. Dir. de arte: Fernando
Zuccolotto. Figurinos: Graciela Martins. Com: Helena Albergaria, Naloana Lima,
Gilda Nomacce, Marina Flores, Lilian Blanc, Thiago Carreira, Hugo
Villavicenzio, Eduardo Gomes.
Em situação econômica nada favorável,
Helena (Albergaria) insiste em alugar um ponto comercial para criar um
mercadinho, onde um dia existira um comércio semelhante. O marido, Otávio
(Descartes), encontra-se desempregado e sempre procurando emprego. Imóvel
alugado, comércio montado, as tensões de Helena vão se tornando crescentes. Com
odores e objetos encontrados na loja, com o desemprego de Otávio, com a
suspeita de que um de seus funcionários, Ricardo (Carreira), furte a loja, etc.
Algo bastante comum, e não apenas no
cinema brasileiro, o filme se sustenta do início ao final, a partir de uma
atmosfera e indicativos de uma “iminência trágica”, e da tensão que essa
provoca, sobretudo em sua protagonista, assim como pretende fazê-lo no
espectador. Há um flerte ainda mais evidente com o horror e o suspense, que o
filme com o qual tem sido muitas vezes comparado, o contemporâneo O Som ao Redor, de Kléber Mendonça
Filho. De forma menos explícita que
naquele, em que o passado autoritário brasileiro emergia em plena continuidade
no presente, aqui surgem instrumentos que remetem à tortura, referência a
práticas escravocratas, que também se prolonga, agora sob forma de tensão
psicológica e abusos de autoridade, em relação à empregada doméstica e,
sobretudo, aos empregados do comércio em questão. Porém as soluções finais
encontradas, para o desfecho da trama, mesmo que inconclusivas, nem de longe
são tão felizes quanto as presentes no filme de Mendonça Filho, além de mais
dispersivas em sua mescla entre o que se filiaria ao gênero horror e os
indicativos mais propriamente endereçados a um comentário sobre o horror
entranhado na sociedade brasileira desde sempre. Se potencialmente essa mescla
ao final poderia ser o ápice do que já vem sendo trabalhado, em geral com
equilíbrio, ao longo da narrativa, o que emerge da misteriosa parede do
comércio não parece equilibrar a balança entre esses dois pesos. Sem falar que O Som ao Redor consegue ser mais feliz
em sua lida com o elenco, cujas interpretações, em geral, soam menos
esquemáticas, que com certa frequência acabam por se dar nessa produção, da
dupla, dirigindo também em separado, que talvez tenha conseguido com maior
frequência estabelecer uma carreira regular que bebe, com maior ou menor
intensidade, nessa relação com os gêneros, e particularmente com o horror. E
com relação ao horror social, esse não apenas se dá enquanto continuidade do
travo amargo com o qual a sociedade brasileira se constituiu, como também se
aplica aos que detém o comando da relação de poder, no quadro apresentado ao
menos, uma classe média que se estapeia e urra para ter o seu lugar ao sol,
como a cena final não deixa de ressaltar. Um mérito inegável do filme é
conseguir manter seu clima de tensão, provocando o espectador a segui-lo sem
pausas. Ancine/Dezenove Som e Imagem/Filmes do Caixote/Lupo/Minc/Oi Oi
Futuro/Sabesp/Santander Seguros/Prefeitura de Paulínia/ProAc/Sec. Municipal de
Cultura de São Paulo. 89 minutos.
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