Filme do Dia: O Estranho Que Nós Amamos (2017), Sofia Coppola


Resultado de imagem para o estranho que nós amamos 2017
O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled, EUA, 2017). Direção: Sofia Coppola. Rot. Adaptado: Sofia Coppola, a partir do romance de Thomas Cullinan e do roteiro de Albert Maltz & Irene Kamp. Fotografia: Philippe Le Sourd. Música: Laura Karpman Phoenix. Montagem: Sarah Flack. Dir. de arte: Jennifer Dehghan. Cenografia: Ann Beth Silver. Figurinos: Stacey Battat. Com: Colin Farrell, Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning, Oona Laurence, Angourie Rice, Addison Riecke, Emma Howard.
Em meio a Guerra Civil americana, O Cabo McBurney (Farrell) é encontrado agonizante e com a perna grandemente ferida por uma garota que o leva para a residência-internato feminino católico  na Vírginia, comandado pela rigorosa Srta. Martha (Kidman). A presença do soldado yankee se torna o motivo inconfesso para que todas as garotas se encontrem ouriçadas a seu respeito. McBurney parece nutrir um sentimento peculiar por Edwina (Dunst), de espírito aparentemente mais livre e que também sente interesse por ele. A recuperação de McBurney é lenta e sua presença, evidente fonte de tensão entre as mulheres. Quando já se encontra em melhor estado, McBurney se voluntaria em ajudar em trabalhos de jardinagem na propriedade. Certa noite, no entanto, Edwina flagra McBurney com a jovem e fogosa Alicia (Fanning), precipitando-se uma sucessão de episódios inesperados.
O filme consegue se sair melhor em sua primeira metade, centrada no minimalismo dos rituais de aproximação e distanciamento das mulheres em relação ao protagonista, e reproduzindo uma lógica, em última instância, mais convencional e  mesmo machista, que em sua ressignificação da mesma a partir de uma perspectiva de empoderamento feminino contemporâneo à época de sua produção, soando talvez pouco verossímil o modo cordato com que a própria Edwina parece pouco reagir a atitude geral tomada a partir da sugestão enviesada de uma das garotas. Coppola constrói uma atmosfera envolvente a partir de um rico trabalho de iluminação (algo evocativo ocasionalmente do Barry Lyndon, de Kubrick) e relativa contenção dramática que, infelizmente, é igualmente desconstruído parcialmente pelos eventos a partir de determinado trecho. Nesse segundo momento, igualmente, tudo o que havia de maledicências e competição interna entre as garotas, numa visão convencional do que seria o espírito feminino em embate com suas próprias semelhantes, torna-se igualmente tocado por uma genuína aspiração anacrônica a sororidade que soa um tanto forçosa – embora o embate entre a perspectiva mais tradicional e a sua revisão soe, por mais esquemática que possa soar, igualmente interessante. E, soma-se a isso, sua crítica no mesmo diapasão à hipocrisia religiosa e ao decoro feminino que mal disfarça o desejo – enquanto expressão da presença de um único homem em um ambiente igualmente dominado por mulheres, Narciso Negro segue talvez como sua expressão mais bem conseguida na história do cinema. São inúmeras as referências ao clássico ...E O Vento Levou, incluindo uma das garotas tendo seu corpete ajustado de forma tão pouco confortável quanto o de Scarlett O’Hara naquele. Coppola parece fazer do romance de Cullinan um caso exemplar, já que sua versão anterior, de 1971,  foi dirigida por Don Siegel, cineasta associado sobretudo a uma filmografia bastante chauvinista e protagonizado por ninguém menos que o ator ícone da obra do realizador, Clint Eastwood. Sobre a personagem, vivida aqui por Farrell, sua apresentação menos auto-confiante que na versão anterior, poderia ser tomada como positiva, ou pelo menos como mais condizente com a atmosfera do filme como um todo, menos explicitamente caricata na apresentação das reações dos personagens. Porém,  dentro da perspectiva construída pelo filme, é apenas mais um tique de hipocrisia social que em breve, sobre situação de extrema tensão, ruirá por terra. E, igualmente afinado com os tempos em que foi produzido, Coppola deixa de lado tanto a personagem da escrava negra, certamente temerosa de acusações de estereotipia quanto a relação incestuosa vivida por Martha com seu irmão, personagem igualmente limada.  A canção Lorena havia sido utilizada em Rastros de Ódio e Marcha de Heróis, ambos de John Ford. American Zoetrope/FR Prod. para Focus Features. 93 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar