O Dicionário Biográfico de Cinema#7: Hal Ashby

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Hal Ashby (1936-1988), n. Ogden, Utah.

1970: Amor Sem Barreiras/The Landlord. 1971: Ensina-me a Viver/Harold and Maude. 1973: A Última Missão/The Last Detail. 1975: Shampoo. 1976: Esta Terra é Minha Terra/Bound for Glory. 1978: Amargo Regresso/Coming Home. 1979: Muito Além do Jardim/Being There. 1981: Second-Hand Hearts. 1982: Lookin' to Get Out; 1983: Let's Spend the Night Together; 1985: The Slugger's Wife; 1986: Morrer Mil Vezes/Eight Million Ways to Die.

Ashby pegou carona para a Califórnia em sua adolescência e trabalhou em todo e qualquer emprego vinculado à cinema, tornando-se assistente de direção em diversos filmes de William Wyler e George Stevens: Sublime Tentação/Friendly Persuasion; Da Terra Nascem os Homens/The Big Country;  O Diário de Anne Frank/The Diary of Anne FrankA Maior História de Todos os Tempos/The Greatest Story Ever Told. A influência de tão pio liberalismo não pode ser esquecida: a despeito de sua aura vinculada aos 60, as atitudes de apoio de Ashby aos anos de Eisenhower, quando conservadores circunspectos podiam se abandonar a compromissos com causas inócuas. Ashby se tornou um montador de mão cheia em O Ente Querido/The Loved One (64, Tony Richardson), e trabalhou para Norman Jewinson, com quem ganharia um Oscar de edição para No Calor da Noite/In the Heat of the Night (67), outro exemplo de direitismo associado com melodrama à moda antiga.

Jewinson permitiu a Ashby sua primeira chance de dirigir: um filme sobre uma criança rica tocada pelas dificuldades e espontaneidade de seus inquilinos no Harlem. Compassivo, Amor Sem Barreiras, é ainda um filme excêntrico, com personagens incomuns. Ensina-me a Viver inspirou a esperança que Ashby pudesse ser um genuíno excêntrico, ao invés de um fofo, um bizarro vendável. Porém o seu humor negro nunca o visitaria novamente, e o roteirista Colin Higgins parecia responsável por se ir tão longe quanto se foi ao se abusar de nossas ideias estabelecidas de bom gosto. A história de amor é embelezada e higienizada: não existe sexo real entre Bud Cort e Ruth Gordon. Transforma-se em outro fraco endosso do "faça você mesmo" do maçante caçador de almas, demasiado egoica e superficial para lidar com causas públicas. Entretanto, possui uns breves momentos de amarga alegria e um prazer enorme e desprezo distante por uma classe média que explica seu posterior status de cult: permite que os garotos entranhados no establishment desprezar sua afluência e status sem por em risco ambos.

A Última Missão/The Last Detail é o melhor filme de Ashby, mas em qual medida se deve aos benefícios devidos ao roteirista Robert Towne e Jack Nicholson? Ashby executa um conceito que é mais melancólico e analítico que costuma ser: que viver é um conjunto de prisões. A Última Missão foi tão silenciosamente sombrio quanto Shampoo fora ousadamente arriscado. Porém em Shampoo eram roteiristas Towne e Warren Beatty, quando o ator chegava ao momento de sua carreira que aspirava dirigir. Foi um filme elegante e obsceno, mas sem qualquer personalidade de diretor. Ao final, sua visão contida do cabeleireiro libertino conspira com sua auto-piedade e o pathos sensual da boca suspirante de Warren Beatty. Esta Terra é Minha fez uso ruidoso de uma pitoresca Depressão para obscurecer a feiura humana e social, uma insípida peça de adoração do herói que encobre a intransigência de Woody Guthrie, enquanto se contenta com a pompa inflada com as quais as biografias de Hollywood tem sempre se guiado por histórias desalinhadas.

Porém, isso não foi nada comparado com Amargo Regresso, um filme que parecia um comercial de TV, apadrinhando paraplégicos, o Vietnã, os militares e o amor com sua nobreza lacrimosa e a ideia que os histrionismos novelescos poderiam incluir os temas políticos. Era o projeto da vez acobertado por Jane Fonda, e nesse processo o duro roteiro de Nancy Dowd foi jogado fora e fomos incitados a acreditar  que Fonda poderia representar uma humilde e inconsciente mulher de um militar, que Bruce Dern era um soldado mediano e que o descontentamento paraplégico é a panaceia última - o sexo novamente tão obscuro e profundo quanto em Ensina-me a Viver. (Se ao menos ao prostrado Jon Voight fosse dado um emprego misericordioso pela vigorosa Ruth Gordon). Amargo Regresso foi adolescente e decadente. Sua falha mais ruinosa é a auto-satisfação que confunde um culto isento de emoção com inteligência e responsabilidade. Amargo Regresso, mais que Ashby sonhou, é um filme sobre as auto-desculpas  e o isolamento que faz esquecer dos erros e dos problemas.

A obra de Ashby nos anos oitenta foi instável, e sofreu com suas dificuldades com as drogas. Ao menos Let's Spend the Night Together demonstrou suas habilidades enquanto montador. Lookin' to Get Out ficou no freezer dois anos antes de vir a ser lançado. Morrer Mil Vezes foi um thriller mergulhado em álcool e drogas, assim como um projeto que contou com a ajuda de várias mãos amigas. Em retrospectiva, A Última Missão e Shampoo se assemelham a modelos absorventes de tato  e controle - e Ashby aparenta ser uma triste vítima a depender de fortes colaboradores.

Texto: Thomson, David. A Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 391-399.

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