Filme do Dia: Gangues de Nova York (2002), Martin Scorsese


Gangues de Nova York - Filme 2002 - AdoroCinema
Gangues de Nova York (Gangs of New York, EUA/Alemanha/Itália/Reino Unido/Holanda, 2002). Direção: Martin Scorsese. Rot. Original: Jay Cocks, Steven Zaillan & Kenneth Lonergan. Fotografia: Michael Ballhaus. Música: Peter Gabriel. Montagem: Thelma Schoonmaker. Dir. de arte: Dante Ferretti. Cenografia: Francesca LoSchiavo. Figurinos: Sandy Powell. Com: Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewis, Cameron Diaz, Jim Broadbent, John C. Reilly, Henry Thomas, Liam Neeson. Brendan Gleeson, Gary Lewis, Cian McCormack.
Em meados do século XIX, duas gangues rivais que disputam o poder sobre os subúrbios nova-iorquinos, região conhecida como Cinco Pontas, enfrentam-se. De um lado se encontram os nativistas, liderados por Bill, o Açougueiro (Lewis), que são contra os imigrantes, especialmente os irlandeses. De outro, os Coelhos Mortos, que possuem como líder o “Padre” Vallon (Neeson), e que defendem os interesses dos irlandeses. No conflito, Vallon morre. Seu filho Amsterdam (McCormack), testemunha do crime e aprisionado em um reformatório durante mais de uma dúzia de anos, retornará para Nova York já crescido (DiCaprio) e disposto a fazer-se na vida. Ironicamente, dada a sua garra, cai nas graças do Açougueiro, que o adota como filho. Apaixonado pela prostituta e ladra  Jenny (Diaz) e como melhor amigo Johnny Sirocco (Thomas). Embora sua ascensão seja rápida no submundo em que Bill possui grande força, Amsterdam vive um eterno drama de consciênica por renegar os valores de seu povo e a bravura do pai. Para piorar a situação, Johnny delata o amigo para Bill, que por pouco não mata Amsterdam. Esse, por sua vez, vê chegada a hora de reabilitar a união dos imigrantes irlandeses conseguindo, inclusive, eleger um deputado, Walter McGinn (Gleeson), que será morto por Bill antes de assumir o cargo. O embate final entre os dois grupos acabará sendo ofuscado pelo conflito maior que leva a cidade toda a se rebelar contra o alistamento militar para a Guerra Civil.
Adaptando seu habitual tema da violência e poder dos gangsteres contemporâneos a um drama histórico, Scorsese vê-se grandemente prejudicado pelas concessões necessárias que uma produção desse porte acarreta. O resultado final, ainda que atulhado de clichês e vítima de um maniqueísmo fácil, não deixa de demonstrar virtudes, tanto na sua evocação da barbárie que gerou a civilização da metrópole por excelência do século seguinte, como ao apontar para o esquecimento dessa mesma barbárie e os personagens, socialmente pouco privilegiados, que a defenderam com absoluta determinação, como faz questão de apontar a bela seqüência final. O uso de uma estética da violência, com requintes de coreografias em câmera lenta que nada ficam há dever a Sam Peckinpah, ainda que excessivo e espetacularizante, justifica-se pelo prisma que o cineasta pretende acentuar da história. Menos defensáveis são os cacoetes como o da heroína, mulher sem lei que se torna um exemplo de abnegação e ética e o próprio drama de Amsterdam, que poderia ter sido mote para um rompimento com o previsível e esquemático desenrolar dos fatos. Ou ainda a praticamente inexplorada intersecção entre história local e nacional, que poderia ter servido como pretexto tanto para uma mais complexa análise do universo em que se situa o drama, quanto para a quebra de uma estrutura recorrente. Não faltam inúmeras alusões a filmes, sendo a mais notória a cena de grua que apresenta o morticínio na cidade aludindo a uma cena antológica de ...E O Vento Levou. O único drama histórico anteriormente dirigido pelo cineasta, A Época da Inocência, apresenta somente o lado aristocrático da sociedade nova-iorquina, aqui presente apenas como um apêndice para a habitual crítica à manipulação e o egoísmo das elites governantes. Cappa Production/ITC/IEG/Meespierson Film/Miramax/P.E.A Films/Q&Q Medien GmbH/Splendid Medien AG. 166 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar