Filme do Dia: Spare Time (1939), Humphrey Jennings
Spare Time (Reino Unido, 1939). Direção: Humphrey Jennings.
Fotografia: H.E. Fowle.
Essa pequena obra-prima do talento documental de Jennings, é um
projeto pioneiro a se deter, de forma mais culturalmente interessada, que
propriamente uma descrição das atividades fabris em tom algo ufanista como nas
produções típicas do período sob orientação de John Grierson. Esse talento se
reflete tanto em sua elaboração formal, construída praticamente sob um estilo
semi-observacional em que a narração over fica grandemente restrita aos
princípios de cada um dos grupos operários retratados: do aço, têxtil e
minerador, e que terá enorme influência sobre a geração posterior do Free Cinema. E também em termos de
conteúdo, na descrição dos afazeres de tais operários em seus “tempos livres”,
ou seja, quando não se encontram no trabalho. As performances musicais dos
grupos, cada segmento trabalhista apresenta um número musical específico, de
certa forma servirá, como no posterior Listen to Britain, como uma espécie de
núcleo ao qual as imagens sempre retornarão e cuja música algo que se
“alastrará” para outras imagens em contextos completamente distintos, dos quais
apenas se pressupõe terem em comum ser do mesmo grupo operário ao qual o
segmento discorre. Trata-se, de certa maneira, de uma visão privilegiadamente
pioneira de representação da classe operária, ao menos nesses termos, enquanto ilustração
de seu tempo de lazer e se afastando das diretrizes documentárias, não apenas
no Reino Unido, mas igualmente internacionalmente, sendo o tema bastante
escassamente visitado então – basta pensarmos na produção brasileira do
período. Suas imagens iniciais são de grande beleza, com enquadramentos
virtuosos e uma fotografia em preto&branco notável, ressaltando já desdo os
primeiros planos, a imensa quantidade de chaminés a povoar o Norte industrial
inglês, antecipando as imagens que serão pano de fundo da produção ficcional
vinculada ao cinema Kitchen Sink do
final dos anos 1950. Destaque para o momento em que não apenas observa
manifestações públicas da classe trabalhadora, mas como traz um vislumbre do
que seria uma refeição da mesma, com pai, mãe e filho rodeando ansiosos uma
torta recém-saída do forno -–será que o filho se apresentaria de maneira tão
formal, de paletó, se não soubesse que seria registrado pela câmera? O cineasta
brasileiro Alberto Cavalcanti, mentor cinematográfico de Jennings, seria o
supervisor dessa produção. GPO Film Unit. 14 minutos e 39 segundos.
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