Filme do Dia: A Morte de Stálin (2017), Armando Ianucci


Resultado de imagem para filme a morte de stálin
A Morte de Stálin (The Death of Stalin, Reino Unido/França/Bélgica/Canadá, 2017). Direção: Armando Ianucci. Rot. Adaptado: Armando Ianucci, Ian Martin, Peter Fellows & Fabien Nury, a partir da história em quadrinhos de Fabien Nury & Thierry Rubin. Fotografia: Zac Nicholson. Música: Christopher Wallis. Montagem: Peter Lambert. Dir. de arte: Cristina Casali & David Hindle. Cenografia: Charlotte Dirickx. Figurinos: Suzie Harman. Com: Olga Kurylenko, Steve Buscemi, Simon Russell Beale, Michael Palin, Jeffrey Tambor, Tom Brooke, Andrea Riseborough, Rupert Friend, Jason Isaacs, Adrian McLoughlin.
Com Stálin (McLoughlin) em vias de morrer, após receber um bilhete da ousada pianista Maria Yudina (Kurylenko), que teve sua família morta por ele, os complôs que são tramados para a sucessão do poder começam a serem fomentados. De um lado se encontra Nikita Kruschev (Buscemi), figura que consegue articular suas estratégias de bastidores de forma mais discreta que o carniceiro Lavrenti Beria (Beale). Enquanto isso, quem assume o poder interinamente é o mais sensível Georgy Malenkov (Tambor). Resta saber, igualmente, o que será feito com os filhos de Stálin,  Svetlana (Riseborough) e o intempestivo e alcóolatra Vasily (Friend). Assim como decidir sobre os funerais do líder morto, que ficam a cargo de Kruschev.
Comédia que pretende – e não consegue – se sustentar apenas na base da truculência que caracterizou o regime stalinista, em que execuções são anunciadas todos os dias como quem pede um menu de restaurante. É pouco, para não falar de grotesco e mal resolvido, em termos de comédia, o nível de brutalidade que segue o grafismo das mortes, mesmo – e talvez principalmente – do hediondo Beria, que de forma muito notória, aplica-se ainda mais ao padrão vilanesco por igualmente ser um predador sexual de garotas menores de idade. Se a principal qualidade da obra em que se inspira provavelmente era a arte gráfica, já que se trata de uma história em quadrinhos, o filme infelizmente não consegue reproduzi-la à altura, sendo o fato de todos os soviéticos falaram em inglês um detalhe menor diante do proposto.  Pior que tudo isso, no entanto, é a sensação que ao se caricaturar um alvo fácil como esse se incensa, na contramão, o próprio Ocidente representado em parte pelos países que produziram essa peça de humor oportunista, provavelmente sendo bem mais desafiador – e talvez impossível – pensar-se em algo com o mesmo apuro de produção, em nível de grotesco caricatural, em relação ao universo doméstico, como a figura de Churchill, que no período dessa produção veio a ser louvada em mais de uma produção (a de maior destaque sem dúvida sendo o não menos débil O Destino de uma Nação). Dentre os elementos de apoio em que o filme busca, sem muita tenacidade, ancorar seu humor, está o de tentar tirar partido da sisudez do protocolo oficial em relação às mesquinhas conspirações e até mesmo decisões a serem tomadas quanto ao próprio ritual fúnebre, o choro de praxe das pessoas que sabem da morte do líder e, na situação mais emblemática de todas, a tentativa de confabulação com o morto literalmente em mãos, carregando as alças do caixão do mesmo ou, numa chave mais tradicionalmente burlesca, o voo rasante dos caças de guerra a abafarem o discurso idiota do filho de Stálin. O linguajar grosseiro e chulo que acompanha um universo masculino propositadamente observado como “animalesco” também é algo que o filme pretende subliminarmente contrapor não apenas ao momento histórico em que este filme foi produzido, como ao se tratar de um Outro não europeu e não capitalista, destituído implicitamente dos modos básicos de etiqueta. É um espetáculo de cinismo nauseante que nem a pretensão da chave cômica consegue infelizmente amenizar e, quanto a possível reverberação para um novo autoritarismo que segue no momento em que foi lançado, com Putin, parece ter enfim conquistado algo de monta, sendo banido da Rússia dois dias após seu lançamento. Quad Prod./Main Journey/Gaumont/France 3 Cinéma/La Compagnie Cinématographique/Panache Prod.  107 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar