Filme do Dia: De Punhos Cerrados (1965), Marco Bellocchio
De Punhos Cerrados (I
Pugni in Tasca, Itália, 1965). Direção e Rot. Original: Marco Bellocchio.
Fotografia: Alberto Marrama. Música: Ennio Morricone. Montagem: Silvano
Agosti & Anita Cacciolati. Dir. de
arte: Gisella Longo. Com: Lou Castel, Paula Pitagora, Marino Masé, Liliana
Gerace, Pier Luigi Troglio, Jeannie McNeil, Irene Agnelli, Gianni Schicchi.
Alessandro (Castel), jovem
epilétpico, não disfarça o incômodo perante a família desestruturada na qual
vive. A mãe (Gerace) cega, religiosa e passiva. A irmã, Giulia (Pitagora),
mantém uma proximidade francamente incestuosa com ele. Um irmão, Leone
(Troglio) é retardado. Enquanto o outro, Augusto (Masé) finge não fazer
exatamente parte do grupo e se encontra mais interessado em seu casamento com
Lucia (McNeill).
Talvez o que torne esse filme mais
ousadamente avançado e mesmo bastante vinculado a uma postura contemporânea, o
de uma anomia patológica que resulta em crimes praticados de fato seja também o
seu calcanhar de Aquiles. Ou seja, o
longa de estreia de Bellocchio consegue ser bastante mais bem resolvido até o
final de sua primeira metade. Posteriormente, quando o crime se torna posto,
não apenas de forma figurativa, cai-se no risco do excessivo, por mais atraente
que seja se observar um protagonista tão alucinadamente disposto a levar as
últimas consequências sua incapacidade, algo fascista, de lidar com pessoas que
possuem deficiência crônica, antecipando tipos similares do cinema francês –
até mesmo Claude Chabrol, um especialista em observar o caráter psicopata
entranhado no mais comum dos lares burgueses, preferia centrar seus crimes
entre cônjuges. O filme deve bastante a figura desesperada, beirando a
histeria, vivida por Castel, cuja carga de criatividade e pulsão não consegue
ser direcionada para nada muito produtivo. Os ângulos em que as tomadas se
sucedem por vezes formam um rico caleidoscópio visual a impregnar o filme, como
é o caso, dentre muitas outras, da cena em que Alesandro lida com um garoto que
ensina aulas extras. De tintas autobiográficas, tal como o primeiro de
Bertolucci realizado pouco antes (Antes
da Revolução). Ao contrário desse, no entanto, retrato mais terno, poético
e realista, Bellocchio prefere apresentar características que tanto antecipam a
onda libertária que varreu a Europa em 68 – quando quebra com gosto o retrato
de Tio Giuseppino e passa a rir descontroladamente com a irmã, seu gesto possui
um peso simbólico quase tão carregado quanto o dos jovens que fuzilam pais,
mestres e autoridades religiosas ao final de Se... (1968), de Lindsay Anderson – como apontam para uma reação
que, por mais que o filme busque processar uma identificação, soa excessiva; em
Matou a Família e Foi ao Cinema
(1969), de Bressane, por exemplo, soa mais bem resolvida, enquanto catarse de
uma impotência. Doria. 105 minutos.
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