Filme do Dia: Clamor do Sexo (1961), Elia Kazan


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Clamor do Sexo (Splendor in the Grass, EUA, 1961). Direção: Elia Kazan. Rot. Original: William Inge. Fotografia: Boris Kaufman. Música: David Amram. Montagem: Gene Milford. Dir. de arte: Richard Sylbert. Cenografia: Gene Callahan. Figurinos: Anna Hill Johnstone. Com: Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle, Audrey Christie, Barbara Loden, Zohra Lampert, Fred Stewart, Joanna Ross, Gary Lockwood, Sandy Dennis, Martine Bartlett.
1927. Deanie (Wood) é uma sensível adolescente que se apaixona pelo filho do homem mais rico de Kansas (Hingle), Bud (Beatty). Os pais de ambos observam com parcimônia a paixão.  No caso dos pais de Deanie (Christie e Stewart), sobretudo de sua mãe, o temor maior é que a filha perca a virgindade antes do casamento. No caso dos de Bud, sobretudo o pai, que ele não cumpra a trajetória que ele havia fantasiado desde há muito. Com muito esforço  consegue que o filho parta para estudar em Yale, enquanto Deanie sofre um colapso psíquico que a leva a ficar internada em uma casa de repouso por dois anos e meio. Durante esse período Bud conhece uma ajudante de cozinha, Angelina (Lampert) e Deanie um jovem médico que também esteve internado com ela
Desde suas primeiras imagens, em que observamos in media res, os avanços de Bud serem refreados por Deanie no interior de um carro, já fica posto o cerne do que virá a ser dramatizado ao longo de suas mais de duas horas: a repressão aos instintos sexuais e o prestígio familiar conjugado ao nível econômico e aos códigos morais; sendo que do primeiro soube tirar partido o sensacionalista título brasileiro. Observa-se a seguir, de forma quase didática, e em paralelismo, a chegada de ambos em suas casas ser recepcionada pelo progenitor de equivalente sexo e com equivalentes preocupações – se Bud avançar o sinal terá que casar com Deanie, se Deanie avançar o sinal, perderá sua reputação de “boa garota”. E esse esquema de paralelismo faz com que nos sintamos como parte do “jogo” de sedução do casal, mais conscientes do que eles próprios, como é o caso da contraposição posterior em que Bud tem um momento de flerte com uma garota que faz pizzas em Yale e Deanie se aproxima de um colega de sanatório, que futuramente se revelará como seus futuros parceiros de casamento. Tampouco o filme deixa de trazer várias imagens de miniaturas de torres de extração de petróleo, na residência dos Stamper, demonstrando o quão opressor se faz a questão da manutenção do status econômico – que logo mais será perdido com o crack da bolsa em 1929. Algo que ainda é observado de forma mais impiedosa do lado dos pais de Deanie que se refastelam de felicidade com os ganhos conquistados na bolsa no momento em que a filha se encontra no auge de sua depressão – e de forma infelizmente nada sutil escutarão posteriormente a notícia no rádio da bancarrota generalizada em Wall Street. É evidente que o filme  implicitamente dialoga com o momento no qual foi produzido, tal como outro filme (Bonnie&Clydeestrelado por Beatty faria o mesmo em relação a segunda metade da década  e rescende a sexo do primeiro minuto ao final, indo até os limites do que então era apresentável – a cena do banho no vestiário masculino, por exemplo, é literalmente um recorte mais pudico que antecipa algo que se tornaria praticamente comum duas décadas após. Como praticamente tudo de relevante que o cinema hollywoodiano produziu pós-Juventude Transviada, aqui igualmente se toma a perspectiva da juventude como sinônimo de valores puros e desinteressados em completa assimetria aos padrões da geração anterior, ou seja, seus pais, aqui representado sobretudo pela personagem caricata do pai de Bud, que acredita que tudo se resume a posse e que chega ao cúmulo de contratar uma corista para ir ao quarto do filho, por ela se assemelhar a Deanie. Como o contemporâneo Os Guarda-Chuvas do Amor, seu pungente final extrai sua camada de fel do contraste entre a banalidade dos diálogos e da própria situação comezinha em que o par principal volta a se encontrar (e mais uma vez, diga-se de passagem, é a figura feminina que sai em desvantagem, pois ainda está com planos de casamento próximo e não já inserida em plena vida doméstica e com filho como o homem). E a relativa ordem das coisas seguindo o seu rumo, e submergindo os sentimentos mais intensos provavelmente vivenciados por ambos (que chegam a afirmar que não mais pensam sobre se são felizes ou não) vem a se casar à perfeição com a interpretação que Deanie havia dado de um trecho do poema de Woodsworth que faz referência o título original (Though nothing can bring back the hour of splendour in the grass/of glory in the flower/we will grieve not/rather find strenght in what remains behind) justamente no momento em que sofre seu colapso e repetido redundantemente ao final. Natalie Wood, de quem a iluminação do filme tira partido de seu expressivos olhares, demarcando-os quando se encontram alterados a determinado momento, na cama do hospital, talvez tenha vivido a interpretação mais pujante de sua carreira. Beatty estreou com esse filme. O personagem do pai de Bud, é vivido de forma um tanto exagerada por Hingle. Barbara Loden, vive quase uma reprodução da histérica ninfomaníaca que fora interpretada por Dorothy Malone em Palavras ao Vento. O filme que Bud e dois amigos assistem no cinema é Primavera de Espinhos (1928), de Alan Crosland e embora a atriz principal se assemelhe a Gloria Swanson, trata-se de Dolores Costello. Warner Bros./Newton Prod./NBI Prod. para Warner Bros. 124 minutos.

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