O Dicionário Biográfico de Cinema#8: Fernando Rey

Resultado de imagem para fernando rey

Fernando Rey (Fernando Casado Arambillet Vega) (1917-94)
n. La Coruña, Espanha

Existe uma rima interna de gosto mais saboroso na história do cinema que o modo, no início dos anos 70, que a serena indiferença de Fernando Rey serviu tanto ao arquetípico cavalheiro burguês para Luis Buñuel, perguntando se o jantar será servido e o inacessível Frog One, Alain Charnier, disposto a servir a todos em Operação França/The French Connection? E que mais, a polidez, a descrição que exibiu para Buñuel esteve muito próxima do modesto aceno com a mão que provocou Gene Hackman, por se encontrar do lado errado da janela do metrô.

 Os modos fazem um homem, seja ele um bispo, um pilar de respeitabilidade ou o canalha mais sórdido jamais fotografado - para os cinema as aparências são percebidas primeiro. Nesse sentido, Fernando Rey não possui rivais, enquanto uma fachada ambígua, um espectador esperando ser cobrado ou canonizado. E como dono de uma das maiores barbas do cinema, com seu triângulo púbico de barba, estando sempre à beira de ser exposto como fraude ou lascivo. Até então, naturalmente, ele é confiável com objetos de valor, filhas e confissões íntimas. Ele teria feito um excelente Clare Quilty  - e um perfeito Humbert. Imagine um filme de Buñuel onde Rey vivesse ambos os papéis, com um diferente Lo a cada plano. Depois de tudo, o mistério de Esse Obscuro Objeto do Desejo/Cet Obscur Objet du Désir é mantido no lugar, adorável, mesmo que incontestável pela inabilidade firme e pia de Fernando, que continua a observar o desvio ocorrendo.

Hoje, o IMDb lista mais de duzentas obras, entre cinema e televisão, nas quais Rey atuou ou deixou a luz escapar de sua superfície. Há um modo no qual ele poderia ter participado de qualquer filme já feito e simplesmente teria atribuído seus fantasmas - como George Sanders, Marcel Dalio, Adolphe Menjou, Dennis Price, etc. - para aqueles fora de seu alcance. É suficiente dizer que antes de 1940 Rey estudou na Universidade de Madri, lutou pelos republicanos na Guerra Civil e fez umas poucas aparições no cinema (como um jovem bonito) após 1945.

Esteve em La Pródiga (46, Rafael Gil); La Princesa de los Ursinos (47, Luis Lucia); com Maria Félix em Mare Nostrum (48, Gil); Delírio de Amor/Locura de Amor (48, Juan de Orduna); Aventuras de Juan Lucas (49, Gil); Cielo Negro (51, Manuel Mur Oti); Senhora de Fátima/La Señora de Fátima (51, Gil); La Laguna Negra (Arturo Ruiz Castillo, 52); Cómicos (54, Juan Antonio Bardem); Billete para Tánger (54, Ted Leversuch); Os Amores de Don Juan/El Amor de Don Juan (56, John Berry); El Cantor de México (56, Richard Pottier); El Andén (57, Eduardo Manzanos Brochero); A Vingança/La Venganza (Bardem, 57); Vingança de Mulher/Les Bijoutiers du Clair de Lune (57, Roger Vadim).

Fluente em francês e inglês, estava bem adequado à produção "internacional": Os Últimos Dias de Pompéia/Gli Ultimi Giorni di Pompei (59, Mario Bonnard); Sonatas (59, Bardem); com Lex Barkin em Mission in Morocco (59, Anthony Squire); Culpables (60, Castillo); Teresa (60, Alfredo B. Crevenna); no épico de Rhonda Fleming A Revolta dos Escravos/La Rivolt degli Schiavi (60, Nunzio Malasomma); e então Don Jaime em Viridiana (61, Luis Buñuel).

Foi Bokan, o Usurpador em Golias Contra o Gigante/Goliath Contro i Giganti (62, Guido Malatesta); A Sombra de uma Fraude/The Running Man (63, Carol Reed); Cerimônia Macabra/The Ceremony (63, Laurence Harvey); Ouro, Brilhante e Morte/Échappement Libre (64, Jean Becker); A Nova Cinderela/La Nueva Cenicienta (64, George Sherman); O Filho do Pistoleiro/Son of a Gunfighter (65, Paul Landres); Worcester em Falstaff, O Toque da Meia Noite/Chimes at Midnight (65, Orson Welles); ele próprio Goldginger (não é inventado) em Dois Mafiosos contra Goldfinger/Due Mafiosi contro Golddinger (65, Giorgio Simonelli) - o grande G era um gênio do mal que procurou transformar todos os funcionários do governo em drones; na tv, como coadjuvante em Don Quijote von der Mancha (66, Jacques Bourdon e Louis Grospierre); em um filme de Eddie Constantine Cartes sur Table (66, Jesus Franco); A Volta dos Sete Homens/Return of the Seven (66, Burt Kennedy); com Burt Reynolds em Joe, o Pistoleiro Implacável/Navajo Joe (66, Sergio Corbucci); como o rei em El Greco (66, Luciano Salce); e como rei novamente em O Jovem Rebelde/Cervantes (66, Vincent Sherman).

Reis em demasia e você ganha um castelo em Run Like a Thief (67, Bernard Glasser e Harry Spalding); História Imortal/The Immortal Story (68, Orson Welles);  A Luta pela Terra (69, Nathan Juran); Un Sudario a la Medida (69, José María Elorrieta); O Mundo dos Aventureiros/The Adventurers (70, Lewis Gilbert); e então, sublime no caos - Tristana (70, Luis Buñuel), com Catherine Deneauve; O Preço do Poder/Il Prezzo del Potere (70, Tonino Valerii); Aoom (70, Gonzalo Suárez); A Cólera de Trinity/La Collera del Vento (71, Mario Camus); Uma Cidade Chamada Bastardo/A Town Called Hell (71, Robert Parrish), como o Velho Cego; e Operação França/The French Connection (71, William Friedkin), onde é suave e tranquilo.

Após O Farol do Fim do Mundo/The Light at the Edge of the World (71, Kevin Billington), fez La Duda (Gil, 72); Presas Brancas/Zanna Bianca (72, Lucio Fulci); O Discreto Charme da Burguesia/Le Charm Discret de la Burgeoisie (72, Buñuel); One Way/Un Camino (72, Jorge Darnell); Lepidus em À Sombra das Pirâmides/Antony and Cleopatra (73, Charlton Heston); Tarot (73, José María Forqué); Pena de Muerte (73, Jorge Grau); Desafio ao Lobo Branco/Il Ritorno di Zanna Bianca (74, Fulci); com Deneauve em La Femme aux Bottes Rouges (74, Juan Luis Buñuel); Alle Origini della Mafia (74, Enzo Muzii); Operação França II (75, John Frankenheimer); Cadáveres Ilustres/Cadaveri Eccellenti (76, Francesco Rosi); Questão de Tempo/A Matter of Time (76, Vincente Minnelli); Striptease (76, Germán Lorente); El Segundo Poder (76, Forqué); Pasqualino Sete Belezas/Pasqualino Settebellezze (76, Lina Wertmüller).

Ganhou prêmios por Elisa, Vida Minha/Elisa, Vida Mía (77, Carlos Saura); e eternidade por Esse Obscuro Objeto do Desejo (77, Buñuel); O Último Amante Romântico/Le Dernier Amant Romantique (78, Just Jaecquin); Rebeldía (78, Andrés Velasco); Quinteto/Quintet (79, Robert Altman); Memorias de Leticia Valle (79, Miguel Ángel Rivas); Cabo Blanco/Caboblanco (80, J. Lee Thompson); El Crimen de Cuenca (80, Pilar Miró); A Dama das Camélias/La Storia Vera della Signora delle Camelia (81, Mauro Bolognini); Monsenhor/Monsignor (82, Frank Perry); Cercasi Gesú (82, Luigi Comencini); como o seco policial de O Traidor/The Hit (84, Stephen Frears); Un Amour Interdit (84, Jean-Pierre Dougnac); Saving Grace (85, Robert M. Young); O Vaqueiro Cantador/Rustler's Rhapsody (85, Hugh Wilson); Padre Nuestro (85, Francisco Regueiro); Hôtel du Paradis (86, Jana Bokova); Commando Mengele (86, Andrea Bianchi); L'Été 36 (86, Yves Robert); El Túnel (87, Antonio Drove); Captain James Cook (87, Peter Yeldham).

Fechando os 70, ainda trabalhava: Luar Sobre Parador/Moon Over Parador (88, Paul Mazursky); Diario de Invierno (88, Francisco Regueiro); La Bahía Esmeralda (89, Franco); Naked Tango (90, Leonard Schrader); Diceria dell'Untore (90, Beppe Cino); na tv como o Don em El Quijote de Miguel de Cervantes (91, Manuel Gutierréz Aragón);  Después del Sueño (92, Mario Camus); 1492: A Conquista do Paraíso/1492: Conquest of Paradise (92, Ridley Scott); La Marrana (92, José Luís Cuerda); Madregilda (93, Regueiro).

Texto: Thomson, David. A Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 8216-8228.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar