Filme do Dia: Faces (1968), John Cassavetes
Faces
(EUA, 1968). Direção e Rot. Original: John Cassavetes. Fotografia: Al Ruban
& Maurice McEndree. Montagem: Al Ruban, Maurice McEndree & John
Cassavetes. Dir. de arte: Phedon
Papamichael. Cenografia: Lady Rowlands. Com: John Marley, Gena Rowlands, Lynn
Carlin, Fred Draper, Seymour Cassel, Val Avery, Dorothy Gulliver, Joanne Moore
Jordan.
Richard Frost (Marley), homem de meia-idade, abandona sua
esposa, Maria (Carlin) pela mais jovem Jeannie (Rowlands). Maria sai para a
noite com amigas e conhece o jovem Chet (Cassel), por quem se sente atraída.
Após uma tentativa de suicídio de Maria, a dupla é supreendida pelo repentino
retorno de Richard e Chet foge pela janela da casa.
Quando se compara o filme de Cassavetes com filmes
convencionais que abordavam um tema que incluía elementos da então recente
revolução sexual (tais como Bob&Carol&Ted&Alice e Shampoo
ou mesmo dramas como Sweet November,
do mesmo ano) dá para ter uma idéia do lugar especial que é reservado a
Cassavetes dentro da cinematografia americana. Menos preocupado em utilizar uma
temática da “moda” para servir como chamariz para seu filme, e muito menos em
construir uma narrativa fechada, Cassavetes se preocupa – como em boa parte de
sua filmografia mais autoral – em demonstrar a fragilidade de personagens cuja
excessiva subjetividade e afetividade se choca com as exigências e convenções
sociais de um mundo em que as relações profissionais, e mesmo pessoais, já de
muito perderam qualquer relação mais orgânica com os impulsos e desejos
pessoais. É quase didático, nesse sentido, que na sua seqüência mais dramática
(reproduzida em Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano de
Scorsese), o jovem amante, recussitando sua parceira, caricature o modo
completamente mecânico como as pessoas levam suas vidas. Como em outros filmes,
os personagens buscam no álcool a saída para a tentativa de expressão dessa
subjetividade tolhida. Porém a pedra de toque para o sucesso do filme é, sem
dúvida alguma, o processo bastante idiossincrático de contato com os atores,
que são filmados em seqüência, maximizando o efeito dramático muitas vezes
perdido nos planos de filmagem convencionais, realizados com grandes lapsos de
tempo. Tal opção, associada com uma
câmera de efeito quase tátil, centrada grandemente nos primeiros planos dos
rostos dos atores tal como indica o título, e uma equipe de produção diminuta,
conseguem traduzir uma intensidade inalcançável por outros realizadores. Algo
que mesmo gerações de realizadores influenciados ou não por Cassavetes, tais
como o próprio Scorsese e os realizadores do Dogma-95, não o conseguiram. Destaque para as atuações soberbas de
Rowlands, Carlin e Marley, esse último praticamente encarnando a própria
persona do Cassavetes ator. Até mesmo a canastrice de Cassel parece aqui bem
afinada com seu personagem de provinciano de Detroit (sua cidade natal na vida
real) em meio a um grupo de mulheres mais ricas que o desejam, no sentido de
que rende enquanto espontaneidade. O tino para a direção de atores de
Cassavetes é evidente quando se toma a interpretação de Carlin, que nunca antes
havia sequer atuado e era secretária de Robert Altman durante o início da
produção do filme. National Film Registry em 2011. Walter Reade Org. 130
minutos.
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