Filme do Dia: Sedução da Carne (1954), Luchino Visconti


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Sedução da Carne (Senso, Itália, 1954). Direção: Luchino Visconti. Rot. Adaptado: Carlo Alianello, Giorgio Bassani, Suso Cecchi D’Amico, Giorgio Prosperi & Luchino Visconti, baseado no romance de Camillo Boito. Fotografia: Aldo Graziati & Robert Krasker. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Ottavio Scotti. Cenografia: Gino Brosio. Figurinos: Marcel Escofier & Piero Tosi. Com: Alida Valli, Farley Granger, Massimo Girotti, Rina Morelli, Marcela Mariani, Heinz Moog, Christian Marquand, Tonio Selwart.
           Na Veneza ocupada pelos austríacos de 1866, após uma apresentação da ópera Il Trovatore, o teatro ribomba em um entusiasmo ufano da aristocracia veneziana que assusta os dominadores. Em meio a confusão, o Marquês Ussoni (Girotti) pede para duelar com o jovem tenente austríaco Franz Mahler (Granger). A prima de Ussoni, a influente Condessa Livia Serpieri (Valli), tenta demover Mahler do combate. Embora aparentemente interessada na sorte do primo, por quem nutre grande amizade ela, na verdade, encontra-se perdidamente apaixonada por Mahler. Compartilhando dos ideais libertários com o primo, ao contrário do marido (Moog), a Condessa não conseguirá, no entanto, dominar a atração que sente por Mahler, que lhe provocará uma enorme sensação de culpa, menos por trair o marido que por trair seus próprios ideais. Inicialmente encontrando-se furtivamente com Mahler, posteriormente irá atrás dele nos alojamentos militares, sendo vítima do escárnio dos colegas do amante. O Conde, temeroso da eminente invasão e pilhagem de seus bens, abandona Veneza e transfere-se para uma propriedade no campo, levando consigo uma Livia desgostosa por abandonar o amante. Logo, no entanto, Mahler aparecerá repentinamente na sacada de seus aposentos, causando alvoroço na segurança da propriedade. Escondido de todos, Mahler permanece alguns dias e só abandona a propriedade após Livia lhe dar uma pequena fortuna, para que compra sua dispensa militar. Infeliz com a reconquista do território italiano por Garibaldi e a conseqüente ofensiva ao exército austríaco, Livia vai encontrar-se com o amante. Sua recepção, no entanto, está longe de ser a que sonhava: Mahler comprou um suntuoso palacete, onde usufrui dos prazeres de prostitutas como Clara (Mariani) e se afoga em álcool e ressentimento de sua própria covardia, declarando-lhe que apenas se utilizara dela e que a imagem que fizera dele era completamente falsa e romântica; para piorar tudo, afirma que ele fora o delator do primo de Livia, que acabou sendo morto. Completamente transtornada com o que ouve, Livia se dirige ao Cel. Kleist (Selwart), e revela tudo sobre Mahler, que é fuzilado.
Utilizando-se de semelhante mescla entre a história italiana e os conflitos amorosos de seus protagonistas que realizará em O Leopardo (1963), Visconti não consegue ir além de um resultado desastroso. A perfeição dos grandes planos, magistralmente fotografados, que assemelham-se a  pinturas em movimento, apenas destaca o acentuado contraste entre a beleza plástica do filme e o vazio e o ridículo da narrativa. Ao tentar contagiar o enredo com a gravidade e pompa do seu estilo visual (bem mais exuberante que o do final de sua carreira), Visconti não conseguiu ofuscar o cômico involuntário que há por trás de sua protagonista. Embora muitos possam encontrar na figura da Condessa a mesma trajetória da perda da dignidade, tal e qual o Aschenbach de Morte em Veneza (1971), assim como outros elementos sempre presentes na carreira do cineasta, seu retrato de amour fou é por demais banal para ser instigante. Representações melhores desse gênero de amor foram efetivadas por outros cineastas em filmes como O Anjo Azul (1930) de Sternberg ou Eva (1963) de Losey, ou até mesmo A História de Adèle H. (1975) de Truffaut. Todo o potencial para a realização de um impactante épico – inclusive as suas recorrentes e poéticas panorâmicas que descrevem o ambiente, uma delas, com uma charrete, quase idêntica a do filme de 63,– aqui acabam frustrando-se com a falta de densidade dramática da protagonista e do relacionamento afetivo que é descrito, auxiliado pelas canhestras interpretações de Valli e, principalmente, Granger. A versão em língua inglesa contou com diálogos escritos por Tenessee Williams e Paul Bowles. Francesco Rosi e Zefirelli, por sua vez, foram assistentes de direção. Entre as várias versões, consta uma versão em vídeo em p&b. Fletwood/Lux. 130 minutos.

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