Filme do Dia: The Hunting Ground (2015), Kirby Dick


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The Hunting Ground (EUA, 2015). Direção e Rot. Original: Kirby Dick. Fotografia: Aaron Kopp & Thaddeus Wadleigh. Música: Miriam Cutler. Montagem: Douglas Blush, Derek Boonstra & Kim Roberts.
A mesma proporção da importância do tema – assédio sexual e estupro nas universidades norte-americanas e a blindagem criada contra a possibilidade de vazamento e registro do ocorrido – se tem da iniquidade formal desse documentário típico de entrevistas com “cabeças falantes”, em nada diverso de dezenas de outros que se assiste na TV a cabo a todo momento, sendo que tal pobreza formal provoca uma diminuição no impacto/profundidade do mesmo. O documentário trabalha com um fluxo contínuo que inclui seu carro-chefe, as entrevistas de vítimas de estupro, entremeadas com falas de especialistas e lampejos breves de reconstituições de acentuado grau de proto-sensacionalismo  (imagens desfocadas, ambiente que reproduz o local onde ocorreu o contato inicial que gerou o estupro) assim como outras imagens de apoio, como os campus de várias universidades relatadas e material audiovisual promocional das mesmas. E igualmente a forte ligação de quase um quarto dos estupros com atletas, que representam não mais que 6% dos alunos e são acobertados por serem peças fundamentais em uma das principais engrenagens que é a indústria dos esportes, sobretudo do futebol americano. Dentre os patéticos meios de criar uma empatia, como se ainda necessária, com as vitimadas e dentro do grupo as que se tornaram ativistas e ganham protagonismo se encontra a utilização de uma canção de Lady Gaga. Como caso exemplar, o documentário fixa-se, próximo ao seu final, na contraposição entre o futuro brilhantemente promissor do jogador  de futebol americano Jameis Winston e da garota que afirmou ter sido estuprada por ele, com amplas evidências e que resolveu sair da universidade, após todo um movimento massivo contrário a ela, inclusive de comentaristas de TV, sugerindo ou explicitando oportunismo. Como um drama convencional, não falta o momento de catarse final, quando finalmente as vítimas de estupro ganham visibilidade de forma mais massiva por parte da mídia, confirmando que a experiência massacrante que passaram, incluindo o desencorajamento institucionalizado de que denunciassem, não foi completamente em vão. E, de alguma forma, ratificando um sistema, a partir do momento em que a preocupação delas chega a boca, por exemplo, de ninguém menos que o presidente Obama. Tudo em ritmo triunfalista de videoclipe ao som novamente de Gaga. Sinal dos tempos: não se faz mais um documentário exatamente contrário a todo um complexo institucional como nos tempos do cinema direto ( High School e tantos outros de Wiseman) mas focado em um ponto específico. O que se ganha em termos de detalhe, se tanto (muitos filmes de Wiseman deixam que as situações por si só demonstrem serem muito mais contundentes), perde-se em termos de se pensar mais amplamente sobre a sociedade que gera tais particularidades. The Weinstein Co. 103 minutos.

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