Filme do Dia: Sappho (1921), Dimitri Buchowetzki
Sappho (Alemanha,
1921). Direção: Dimitri Buchowetzki. Rot. Adaptado: Dimitri Buchowetzki, a
partir do romance de Alexandre Dumas, pai. Fotografia: Arpad Viragh. Dir. de
arte: Robert Neppach. Com: Pola Negri, Johannes Riemann, Alfred Abel, Albert
Steinrück, Helga Molander, Otto Treptow, Elsa Wagner, Elinor Gynt.
Richard
de la Croix (Riemann) é chamado após seu irmão, Georg (Abel), ter entrado em um
asilo de loucos, depois de ter se relacionado com a lasciva Sappho (Negri).
Espantado com o estado do irmão, que nem sequer o reconhece, Richard busca
conhecer Sappho. Sappho se apaixona por ele, abandonando o rico amante Bertink.
Esse, tempos depois, arruína a relação de Sappho com Richard, ao contar como
ela levara o irmão dele à loucura. Quando fica sabendo que Richard se encontra
em vias de se casar, Sappho tenta retornar a Bertink, que a rejeita. Ela busca,
então, um romance com Teddy (Treptow), que fora quem a apresentara a Richard.
No mesmo momento, Richard foge de seu casamento e Georg do asilo desesperados
por Sappho. Eles a vão encontrar numa festa de carnaval nos braços de Teddy.
Quando ela descobre Richard em meio a multidão, corre a seu encontro. Porém,
enquanto os dois ainda imaginam o que poderá vir a ocorrer entre eles, a
chegada de Georg sela a morte de Sappho.
A
cena no asilo de loucos que surge uma grande quantidade de pacientes é ainda
mais caricata que a de seu contemporâneo O Gabinete do Dr. Caligari, sendo que aqui tal disparidade é menos acolhida
pois não conta com os igualmente extravagantes cenários da obra-prima
expressionista. Mesmo o filme apresentando umas poucas soluções visuais
inspiradas, como a do mar revolto em meio ao turbilhão de sentimentos que passa
então Richard e Sappho, no geral se trata de um melodrama decepcionantemente
convencional, quando comparado a força de seu quase imediatamente posterior Othello, como se o cineasta se moldasse
ao material que adaptava. Em termos morais, igualmente, o filme segue uma
postura bastante convencional, com a vamp
e empoderada personagem de Negri rapidamente se transformando em seu oposto,
apaixonada e frágil, a jogar-se passiva aos pés de seu homem, a descontar todos
os males que anteriormente provocara nos orgulhos masculinos feridos, inclusive
a loucura do irmão do protagonista. Se acreditando casada e agora extremamente
ciosa e adaptada ao seu novo papel, algo que o filme demonstra em sua corrida
alvoraçada ao mar para consolar o choro de uma criança. Na família dos la
Croix, igualmente, mãe e irmã parecem viver completamente à mercê do que ouvem
sobre os filhos-irmãos, não possuindo aparentemente vida própria. A fuga do
louco de Nosferatu prece ter se
inspirado na aqui observada. Na terça parte final, demonstra um ritmo mais
eufórico e interessante e se Sappho é previsivelmente sacrificada ao final, ao
menos o é por outro e não por suas próprias mãos, reagindo com as armas que
possui até o final. Com suas limitações, o filme se torna interessante ao
espectador de quase um século após sua realização, ainda que a contrapelo de
suas intenções originais, ao menos por dois motivos. Primeiro, ao evidenciar a
construção dos papéis sociais, ainda que de forma algo brusca e caricata, e
restrita à figura feminina “fora do esquadro”, através de suas duas
metamorfoses, a primeira guiada pelo “sincero amor”, a segunda pelo
“desespero”. Depois, o momento de loucura simultâneo dos irmãos é também o
momento de fuga de duas instituições, uma literal, o asilo, a outra que também
poderia ser lida quanto tão aprisionadora quanto o asilo, o casamento burguês,
que aliás era para onde parecia se estar encaminhando a relação entre Richard e
Sappho. Negri, a descoberta de Lubitsch e também pioneira atriz europeia a
tentar a sorte em Hollywood, dois anos após esse filme. Lançado nos EUA como Mad Love. PAGU para UFA. 81 minutos.
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