Filme do Dia: As Mãos de Orlac (1924), Robert Wiene
As Mãos de Orlac (Orlacs
Handë, Alemanha, 1924). Direção: Robert Wiene. Rot. Adaptado: Louis Nerz,
baseado no romance de Maurice Renard. Fotografia: Hans Androschin & Günther
Krampf. Dir. de arte: Hans Rouc & Stefen Wessely. Com: Conrad Veidt,
Alexandra Sorina, Fritz Kortner, Carmen Cartellieri, Fritz Strassny, Paul
Askonas.
Orlac (Veidt) é pianista de sucesso e
possui uma esposa devotada, Yvonne (Sorina). Quando retorna para os braços de
sua amada, sofre um acidente de trem, que prejudica justamente suas mãos. Após uma intervenção cirúrgica lhe são implantadas as mãos de um conhecido
assassino. Aterrorizado com o fato, Orlac passa a ser perseguido pela ideia de
que suas mãos agem contra sua vontade e que ele pode matar a qualquer momento.
Situação que ele tem certeza após, falido por não mais se apresentar, encontrar
seu pai assassinado com o punhal do criminoso e tendo as impressões digitais do
mesmo no corpo. Orlac encontra alguém que diz ter tido implantada a própria
cabeça decapitada do assassino e que o chantageia para não entregá-lo a polícia.
Acaba-se descobrindo que se trata de Nera (Kortner), ele próprio o assassino e
não a vítima que fora condenada à guilhotina, liberando Orlac de todo o trauma que
findara com seu casamento e sua fortuna.
Mesmo sem a cenografia ou a maquiagem
estilizada de O Gabinete do Dr. Caligari
(1919) e Genuine (1920),
trata-se de uma produção marcada por mais sutis elementos expressionistas no
cenário, na iluminação e na interpretação do mesmo Veidt que havia interpretado
o Cesare de Caligari. Movendo-se
como um autômato em um cenário mais para realista, a interpretação de Veidt,
repleta igualmente de esgares, soa patética e involuntariamente cômica. Aqui, mais marcadamente, o que há de devaneio, ilusão e sombrio e o que se
situa no campo do realismo é ainda mais determinado. Evidentemente o fato de
ser uma adaptação de uma famosa obra literária – com pelo menos três outras
versões cinematográficas, uma delas dirigida por Karl Freund em 1935, com Peter
Lorre – não deixa de soar um tanto
esquemático e inverossímil na forma que a fantasia é desfeita e se retorna ao
equilíbrio inicial. Ainda assim, existem ao menos três cenas dignas de nota. Na
primeira delas uma mão gigante, na melhor tradição dos pesadelos
expressionistas, evocativa de O CasteloVogelöd (1921), de Murnau, ameaça um herói infinitamente pequeno; na
segunda, de modo bastante anti-naturalista, Yvonne lida com credores que negam
qualquer tentativa de conciliação das dívidas do casal que não seja a proposta
do dia seguinte. Nessa última os credores ainda que dialoguem com ela,
encontram-se por trás da mesma e apenas balançam suas cabeças negativa ou
afirmativamente. Se a primeira pode ser justificada em termos de realismo, a
segunda, assim como outros momentos do filme, certamente que não. Como é o caso
da atmosfera e posturas tampouco realistas que representam a ida de Yvonne a
casa do seu sinistro sogro. Os aposentos desse são o que mais se aproximam de
uma cenografia expressionista adaptada para padrões menos irrealistas,
fascinante em seu jogo de perspectivas auxiliado pela iluminação que ressalta,
de forma relativamente sutil, os contrastes entre claro e escuro. Caso se
quisesse frisar aqui uma subjetividade alterada, certamente não seria o caso,
pois não se tratava do ponto de vista do próprio Orlac. Ao contrário do que era
comum entre os realizadores expressionistas, os entretítulos aqui são utilizados sem parcimônia, todos
representando diálogos. Berolina Film GmbH/Pan Films. 110 minutos.
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