Filme do Dia: O Porto de Santos (1978), Aloysio Raulino

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O Porto de Santos (Brasil, 1978). Direção, Rot. Original e Fotografia: Aloysio Raulino. Montagem: José Motta.
Se o estrilado nada “naturalista” de sua banda sonora, sua pós-sincronização e os comentários algo atravessados de sua voz over em relação à imagem – como o que comenta que em 1909 houve a maior safra de exportação de café – já prenunciam a habitual leitura irônica de Raulyno em relação à tradição documentária, sua iconoclastia explode de fato próximo da sua metade, quando apresenta um homem se requebrando de modo caricatamente voluptuoso em trajes sumários ao som do grande sucesso de então Amante Latino na voz de Sidney Magall. Tal cena parece antes pular de uma produção do Cinema Marginal. Ao mesmo tempo fica patente sua iconoclastia com o que se esperaria sobre um documentário com o título que possui. Sua proximidade com o Cinema Marginal também se dá pela investigação de rostos similar aquele, como na cena em que sem qualquer sonorização se observa uma jovem a se pentear diante do espelho – movimento duplicado, de olhares, já que ela também observa a câmera. Há uma sugestão de se tratar de uma prostituta, quando se observa a seguir luminosos de vários inferninhos, que também compõem o imaginário reservado aos portos. E a observamos no “ambiente de trabalho”, com outra característica muito presente na produção marginal, que diz respeito a ressignificação das canções utilizadas, como é o caso da canção infantil tradicional O Cravo Brigou com a Rosa e similares. Além da ocasional narração over, que praticamente some na segunda parte do curta, observa-se uma fala em primeira pessoa de alguém aparentemente falando sobre o perfil diferenciado de pessoas que frequentam a área, mas a partir de uma viés extremamente subjetivo. Se parece precursor de uma aproximação com uma “estética do recuo” em relação ao saber sobre um objeto que havia correspondido o documentário tradicional, igualmente destoante do panorama da época que foi produzido é sua extraordinária fotografia em p&b, ainda mais valorizada pelo processo de restauração realizado em digital. Uma comparação interessante talvez possa ser feita com outra abordagem do cinema brasileiro de outro período sobre tema similar, Um Dia na Rampa (1960), de Luiz Paulino dos Santos. Atalante Prod. Cinematográficas. 19 minutos.

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