Filme do Dia: Assassinato no Expresso do Oriente (1974), Sidney Lumet
Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, Reino Unido, 1974). Direção: Sidney
Lumet. Rot. Adaptado: Paul Dehn, a partir do romance de Agatha Christie.
Fotografia: Geoffrey Unsworth. Música: Richard Rodney Benett. Montagem: Anne V.
Coates. Dir. de arte: Tony Walton & Jack Stephens. Figurinos: Tony Walton.
Com: Albert Finney, Lauren Baccall, Martin Balsam, Ingrid Bergman, Jacqueline
Bisset, Michael York, Jean-Pierre Cassel, Sean Connery, John Gielgud, Wendy
Hiller, Anthony Perkins, Vanessa Redgrave, Rachel Roberts, Richard Widmark.
Dezembro de 1935. Hercule Poirot
(Finney), famoso detetive belga, está retornando à Inglaterra e consegue, graças a sua amizade
com o diretor da companhia, Signor Bianchi (Balsam), uma vaga no célebre
Expresso do Oriente. Pouco depois de instalado no trem, é procurado por um homem,
Ratchett (Widmark), que se diz ameaçado de morte e oferece uma pequena fortuna
para que ele cuide do caso. Poirot recusa. Pouco tempo depois, com o trem
parado devido a uma forte nevasca, Ratchett é morto. Poirot logo irá perceber
que todos os passageiros do comboio possuem motivações para tê-lo morto já que,
na verdade, trata-se de Casetti, mafioso responsável pelo sequestro e morte da
garota Daisy Armstrong e as quatro mortes que se seguiram a essa.
Fazendo uso incomum de uma motivação
comum à indústria no momento, que eram os filmes com superelenco, geralmente
produções de cinema-catástrofe. Aqui, pelo contrário, trata-se da adaptação
talvez mais famosa de um romance de Agatha Christie para as telas – voltaria a
ser filmada em 2017. Porém, como as outras, faz uso de diversas estrelas do
período clássico hollywoodiano já em franco declínio de carreira (Bacall,
Bergman, Widmark, etc.) com nomes mais recentes. Proveniente de outra produção
de resultado bem mais feliz (Serpico),
Lumet realiza algo como um tour-de-force
das estrelas, pois é justamente a presença maciça delas que orienta o filme em
última instância, algumas delas filmadas em longos planos-sequencia em seus
depoimentos, como é o caso de Bergman por mais de 5 minutos ou o longuíssimo
monólogo em que Poirot desvenda o que seria a sua versão do crime – e que o
filme aceita sem pestanejar, apresentando visualmente o seu relato, inclusive
de pouco verossímeis diálogos de como teria ocorrido, por conta do excessivo
detalhamento, como a ridícula dedicatória que cada personagem efetua antes de
perpetrar sua parte no crime. Soma-se a isso um senso quase voyeurístico do uso
de suas estrelas, como na despedida ao final de todos os personagens diante de
quem havia organizado a ação criminal, muito similar a apresentação inicial dos
atores em um filme mudo. Com essas duas características demasiado presentes, e
com uma dependência quase única de seus excessivos diálogos, apesar de sua
trilha musical algo insípida em sua grandiloquência e de uma fotografia de
efeitos vaporosos e irrealistas, tende-se a uma experiência aborrecida, com os
cansativos argumentos de um Poirot vivido com bravura por um Finney que
aparenta um senhor já idoso, vaidoso, alquebrado e um tanto irritadiço, não sem certo exagero como
habitual em situações do tipo. Sua excessiva metragem, assim como a forte
impressão que todos os personagens não possuem outra razão de existir que suas
vinculações com o caso criminal provocado pelo assassinato, e explicitamente
baseada no célebre caso do piloto Charles Lindberg, tampouco auxiliam. Anthony Shaffer, que teve
colaboração não creditada no roteiro, assinaria o dos posteriores Morte Sobre o Nilo (1978) e Assassinato num Dia de Sol (1982), de
John Guillermin e Guy Hamilton respectivamente. EMI Film Dist.-G.W.Films
Limited. 128 minutos.
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