Filme do Dia: Corra! (2017), Jordan Peele
Corra! (Get Out!, EUA, 2017). Direção e Rot.
Original: Jordan Peele. Fotografia: Toby Oliver. Música: Michael Abels.
Montagem: Gregory Plotkin. Dir. de arte: Rusty Smith & Chris Craine. Cenografia: Leonard R. Spers.
Figurinos: Nadine Haders. Com: Daniel Kaluuya, Alisson Williams, Catherine
Keener, Bradley Whitford, Caleb Landry Jones, Marcus Henderson, Betty Gabriel,
Lakeith Stanfield, LIlhel Howery.
O
fotógrafo negro Chris Washington (Kaluuya) aceita o convite de sua namorada
branca Rose Armitage (Williams) para conhecer sua família. Seus pais, Missy
(Keener) e Dean (Whitford), de tendência progressista e que, aparentemente,
pouco se importam com o fato da filha namorar um negro. Porém o que era para
ser um final de semana convencional se transforma progressivamente em um
terrível pesadelo, com Chris percebendo inicialmente o comportamento estranho
dos criados negros da casa, Georgina (Gabriel) e Walter (Henderson), assim como
do irmão de Chris, Jeremy (Jones), dos seus convidados e, por fim, de seus
próprios pais, tendo sido ele hipnotizado pela mãe dela. Seu amigo, Rod
(Howery), encontra-se preocupado com o desaparecimento do amigo, após descobrir
que outro negro que também se encontrava entre os convidados do encontro que
houve no final de semana, Andrew (Stanfield), encontra-se desaparecido.
Enfrentando
de forma ousada o casamento nada comum entre gênero (no caso, horror/suspense)
e um comentário sobre a questão racial o filme derrapa forte, no entanto, em
sua transição para o universo fantástico, em que não falta sequer momentos de
humor involuntário. Os convidados para a festa na casa dos Armitage se
aproximam, em sua estranheza, dos de O Bebê de Rosemary, não faltando sequer a personagem de um Roman. E se no
filme de vampiros cruz e alho quase sempre são bem vindos, aqui é uma foto ou
filmagem no celular que os afeta. As interpretações não mais que medianas,
algumas vezes beirando a insuficiência depõe contra o razoável senso
atmosférico que o filme constrói, mas que é prejudicado por seus excessos.
Partindo de um princípio similar ao de Adivinhe
Quem Vem Para Jantar, o da garota que apresenta seu namorado negro aos pais
liberais, o filme sofre principalmente com a pouca organicidade que estabelece
entre os elementos fantásticos e realistas e, talvez ainda pior que isso, com
suas pretensões alegóricas de expressar a dominação pelos brancos dos negros e
seus expedientes que misturam horror, sobrenatural – com efeitos especiais algo
patéticos para simular o estado de transe e semi-consciência de Chris – e doses
de ficção científica, como é o caso da cirurgia envolvendo a retirada da caixa
craniana. Se algum desses elementos realistas parecem tingidos fortemente pela
senso persecutório que parece tomar conta crescente de seu protagonista – ainda
que o filme não consiga elaborar uma ambiguidade entre real ou alucinação como
Polanski o fizera ao filtrar tudo pelo ponto de vista de sua protagonista – no
caso , por exemplo, do trio de policiais que abertamente riem do que Rod
lhes conta, essa estranheza soa demasiado artificiosa quando comparada a de
realizadores como David Lynch. Peele, em seu longa de estreia, apela para uma
inversão que contradiz os estereótipos presentes desde Griffith, no qual
famílias brancas eram ameaçadas muitas vezes por membros de outras etnias ou
grupos sociais, fossem índios, negros ou ciganos. Aqui é um negro que é
ameaçado por uma família branca, ou seja, essa ao invés de ser a vítima é a agressora tornada vítima apenas
enquanto legítima defesa do herói. E o gozo com que Chris massacra a família,
algumas vezes presente na imagem, em um festival de sanguinolência gore, pode ser observado como uma
atualização para gênero e época do apressado tapa com o qual Virgil Tibbs
retruca a violência sofrida por um rico branco em No Calor da Noite meio século antes e não se encontra distante de
outras “reparações” raciais como o contemporâneo O Nascimento de uma Nação. Tudo isso, por mais louvável ou
simplesmente oportunista que seja, infelizmente não torna o filme em algo menos
medíocre do que é. Blumhouse Prod./Monkeypaw Prod./Q.C. Ent. para
Universal Pictures. 104 minutos.
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