Filme do Dia: O Samurai do Entardecer (2002), Yoji Yamada
O Samurai do Entardecer (Tasogare
Seibei, Japão, 2002). Direção: Yoji Yamada. Rot. Adaptado: Yoji Yamada
& Yoshitaka Asama, baseado nos romances Tasogare
Seibei, Chikkon Shiatsu e Iwaibito Sukebachi. Fotografia: Matsuo
Naganuma. Música: Yousui Inoue & Isao Tomita. Montagem: Iwao Ishii. Dir. de
arte: Mitsuo Degawe & Yoshinobu
Nishioka. Figurinos: Kazuko Kurosawa. Com: Hiroyuki Sanada, Rie Miyazawa, Nenji
Kobayashi, Ren Osugi, Mitsuru Fukikoshi, Miki Ito, Erina Hashiguchi, Reiko
Kusamura, Min Tanaka.
No século XIX, o desprestigiado
samurai que recebe apenas 50 kokus, Seibei Iguchi (Sanada) tem que lidar com
uma esposa doente, uma mãe senil (Kusamura) e duas filhas pequenas. A esposa morre
de tuberculose. Com a morte da esposa, Iguchi passa cada vez a ficar mais
descuidado com a aparência física, ganhando o apelido de Samurai do Entardecer.
Humilde e sem maiores ambições, rejeita tantos postos mais vantajosos quanto
propostas de casamento arranjado, sonhando apenas em ser camponês e ver as duas
filhas crescerem saudáveis e educadas. A proximidade com uma amiga de infância,
Tanoe (Miyazawa), separada após um casamento frustrado com um samurai
alcoólatra e agressivo, conquista a simpatia das filhas de Seibei. Esse,
surpreendendo o ex-marido de Tanoe a agredindo, aceita um duelo em que consegue
vencê-lo sem necessitar matá-lo. Como o vencido tinha fama de bom lutador, o
prestígio de Seibei cresce. O irmão de Tanoe e a amigo de Seibei, Michinojo
(Fukikoshi), sugere o casamento de Seibei com
a irmã, mas esse rejeita não se acreditando capaz de providenciar uma
vida digna para um clã recebedor de 200 kokus. Com as reviravoltas políticas
provocadas na Era Meiji, muitos senhores e seus respectivos samurais são
incitados a praticar o harakiri. Um dos samurais fiéis a um senhor já morto, o
violento Zenemon Yogo (Tanaka), resiste em praticar o suicídio. O clã de Seibei
o designa para matar Yogo. Antes de ir ao encontro, Seibei chama Tanoe em sua
casa e pergunta se ela o aceitaria em casamento, caso ele sobrevivesse ao
duelo. Tanoe, entristecida, afirma que aceitara um pedido de casamento há
apenas uma semana. Seibei vence o duelo e se une a Tanoe, para a alegria de
suas filhas.
Yamada conseguiu um distinto retrato
do ocaso da época dos samurais em que a dimensão da vida doméstica sobrepuja em
muito a habitual descrição voltada para batalhas sangrentas e códigos sociais
completamente rígidos. Talvez o fato de optar por uma descrição de um período
já próximo da dissolução desses valores facilite a operação de criar um
protagonista em tudo afinado com os valores morais contemporâneos e
considerado, portanto, “exótico” por seus amigos e familiares. Nesse sentido,
tanto Seibei quanto Tanoe demonstram um descaso com as convenções sociais da
provinciana comunidade na qual vivem. Tanoe, por exemplo, leva as filhas de
Seibei para assistirem um festival dos camponeses, prática interdita às
famílias dos samurais e chega a ter a consciência de que os samurais só possuem
o padrão de vida um pouco mais elevado por conta dos próprios camponeses.
Seibei, por sua vez, recusa casamentos arranjados, incita suas filhas a
estudarem e decide construir uma união embasada nos sentimentos, desconstruindo
e antecipando as próprias relações entre os gêneros. Porém, não se deve
esquecer que mesmo fazendo com que seu personagem seja modernizado o bastante
para fugir dos padrões da sociedade da época, o filme não deixa de apresentar
um protagonista tão virtuoso e hábil na luta quanto os heróis habituais das
histórias de samurais. Partindo de uma narrativa grandemente clássica, Yamada
segue a perspectiva das memórias da filha de 5 anos de Seibei que narra em off os acontecimentos, sendo a própria
narrativa um testemunho da lição de vida deixada pelo pai, morto apenas 3 anos
após sua união com Tanoe, longe de cair, no entanto, no sentimentalismo fácil.
Com direção de arte, fotografia e elenco impecáveis, ainda que o mesmo não
possa ser dito para sua trilha sonora. Hakuhodo Inc./NTV/Sumitomo Corps. Para
Shochiku Films. 129 minutos.
Comentários
Postar um comentário