Filme do Dia: The Connection (1961), Shirley Clarke
The Connection (EUA, 1961). Direção: Shirley Clarke. Rot.
Adaptado: Jack Gelber, baseado em sua própria peça. Fotografia: Arthur J.
Ornitz. Música: Freddie Redd. Montagem: Shirley Clarke. Dir. de arte: Richard
Sylbert & Albert Brenner. Figurinos: Ruth Morley. Com: Warren
Finnerty, Jerome Raphael, Garry Goodrow, Jim Anderson, Carl Lee, Barbara
Winchester, Harry Proach, Roscoe Lee Browne, Freddie Redd.
Detendo-se em um grupo de viciados em um apartamento, Clarke
envereda pela estratégia do “falso documentário” – ao início uma voz em off afirma sobre a autoria e
responsabilidade das imagens – em resultado completamente diverso e mais mal
sucedido que seu posterior The Cool World (1963). Ainda que, a guisa de se tornar verossímil junto a sua pretensão de ilustrar as filmagens
improvisadas de um documentário talvez contenha alguns elementos mais críveis
do que outro filme que articula proposta semelhante, A Bruxa de Blair, como as interrupções nos planos de filmagem e
alguns efeitos evocativos ao da troca de rolo de película, o resultado final é
prejudicado por sua característica excessivamente teatral, não renegando sua
origem. Nesse sentido, todo o trabalho do elenco soa grandemente empostado e
sua movimentação pelo apartamento demasiada marcada e artificiosa, sendo não
apenas pouco apropriada para seus propósitos de mimetizar uma situação real
como – e ainda pior – indigestos para o filme como um todo. O personagem de
Sister Salvation é um dos que ainda vem a acentuar mais a sensação fake que
acompanha o filme do início ao final.
Alguns dos próprios imperativos utilizados para lembrar que se trata de
uma filmagem, como no momento no qual o idealizador do filme dentro do filme,
J.J. Browne, dirige-se para o operador da outra câmera (esse nunca entrevisto
ao longo de todo o filme) através do seu visor e não diretamente a ele.
Talvez o único momento efetivamente inspirado seja o que envolva um conflito
entre dois membros do grupo e a câmera flagre um momento de ensaio da banda de
jazz que parece instilar certa espontaneidade na excessiva afetação das
interpretações (efetuadas pelo então célebre grupo de teatro vanguardista
Living Theatre). Aliás o jazz e o ambiente marginal em relação à classe média
talvez sejam os dois únicos pontos que o identificam com The Cool World, amplamente filmado em locações. O uso da heroína é
ocultado já que todos se drogam no banheiro – a certo momento até o realizador
decide experimentar a droga – ao menos até próximo do final, quando Leach se
droga diante de todos e da câmera e depois tem um previsível princípio de
overdose. Tampouco o filme deixa de apresentar, a certo momento, um de
seus personagens folheando uma revista erótica de nus masculinos – aliás a
homossexualidade de um dos personagens é explicitada justamente no momento do
conflito acima referido - e, noutro
momento, uma revista de nudez feminina se encontra sobre a mesa. Porem, tal
como a barata que sobe insuspeita a parede, apenas percebida pelo operador de
câmera, tudo parece demasiado enfático na ânsia de representar um mundo
degradado e exasperante para se tornar minimamente interessante – uma rara
visão de viciados que não cai nessa perspectiva, nem tampouco na da exaltação é
a presente em No Quarto da Vanda (2000),
de Pedro Costa. Até mesmo, porque o que parece importar a Costa é menos a
condição de viciada de sua personagem do que a própria personagem em si. A utilização da música por vezes soa menos
como extensão do “improviso” buscado de
modo semelhante na representação dos atores e mais como uma trilha musical “ao
vivo” que serve como pano de fundo para boa parte das situações
dramáticas. A certo momento, inclusive,
ensaia-se uma abertura da célebre fanfarra da série de animação Looney Tunes, da Warner. Films
Around the World. 91 minutos.
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