Filme do Dia: Hans Staden (1999), Luís Alberto Pereira



Hans Staden (Brasil/Portugal, 1999). Direção e   Rot. Original:  Luís Alberto Pereira. Fotografia: Uli Burtin.  Música: Marlui Miranda & Lelo Nazário. Dir. de arte: Chico de Andrade. Cenografia: Zeca Nolf & Clíssia Moraes. Figurinos: Cleyde Fayad. Com: Carlos Evelyn, Darci Figueiredo, Stênio Garcia, Mário Jacques, Sérgio Mamberti, Cláudia Liz, Ariana Messias,  Adelino Neves, Beto Simas.
       Staden (Evelyn) sofre um naufrágio com a nau portuguesa que embarcara e torna-se líder da fortificação portuguesa, em Bertioga, no ano de 1547. Em 1554, preocupado com um escravo desaparecido, entra em contato com a tribo indígena dos tupinambás, tornando-se prisioneiro, acusado de ser português. Os portugueses são mal vistos pela nação indígena que, no entanto, mantém boas relações com os franceses. Staden é prometido para ser a refeição para a próxima lua cheia. Porém, para sua sorte, uma epidemia dizima a família do chefe da aldeia, Nhaepepô oaçu (Simas) e Staden afirma que trata-se de uma vingança de seu Deus contra aqueles que querem matá-lo. Os indígenas passam a ficar temerosos e ele promete que o líder não morrerá o que, coincidentemente, não vem a ocorrer. Novamente quando as ameças começam a pesar sobre sua cabeça, ele afirma que a chuva que cai sobre a aldeia foi um castigo, porque alguns índios haviam arrancado a cruz que ele havia fixado. Quando começa a orar, o sol volta a abrir. Mesmo com o tratamento pacífico que passa a ganhar da tribo, inclusive vivendo uma história de amor com uma índia, Nairá (Messias), Staden tenta de diversas maneiras voltar para a Europa. Em uma de suas tentativas, com um judeu, Jacob (Mamberti), que negocia quinquilharias com os índios. Em outra, tenta fazer com que um francês que esporadicamente aparece para negociar com a tribo leve-o com ele. Passada a tempestade, Staden tem sua cabeça novamente em jogo. Ao invés de ser executado, no entanto, ele é dado de presente para uma tribo amiga. O chefe tem-lhe como filho. Porém, nove meses após seu cativeiro, um comandante de uma nau gaulesa, condoído da sorte de Staden, consegue convencer o chefe da tribo de que ele deve retornar para o seio de sua família, inventando que a tripulação é formada por seus irmãos e que, na Europa, lhe aguarda o pai moribundo que deseja vê-lo pela última vez.
Essa adaptação é mais convencional que outro filme que trata também da figura de Staden, Como Era Gostoso o Meu Francês (1971) de Nélson Pereira dos Santos. Enquanto o filme de Santos é um herdeiro legítimo de um momento em que a contra-cultura e um certo teor antropofágico herdeiro do Cinema Novo e do Cinema Marginal imperavam, o filme de Alberto Pereira o é da produção cinematográfica nacional do final dos anos 90: bem cuidado tecnicamente, mas grandemente insosso; falta vida e originalidade e uma mais bem articulada exploração dramática das situações que são retratadas ao longo do enredo; muito dessa lacuna deve-se, certamente, a inverossimilhança da representação dos indígenas: não é porque falam o tupi-guarani (aliás uma característica também do filme de Santos) que os índios retratados  se tornam mais verossímeis, o que é uma falha num filme com pretensões realistas. Pereira apenas retrata sua história, sem procurar revesti-la de um moralismo construído a partir de nossa visão retrospectiva ou heroicizar sejam os indígenas ou Staden. Não acentua, por exemplo, a moral fortemente cristã que é atribuída a Staden, que provavelmente foi de grande importância tanto para a sua ascensão à líder como para sua resistência no cativeiro, dando mais a entender que ele utiliza-se da religião apenas para safar-se da condenação, o que pode ser mais próximo da visão de mundo do cineasta que da realidade da época a qual procura retratar. Na trilha sonora, belas canções nativas na voz de Marlui Miranda. Jorge Neves Produção Audiovisual/Lapfilme/IPACA. 92 minutos.

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