Filme do Dia: O Bandido Giuliano (1962), Francesco Rosi

 


O Bandido Giuliano (Salvatore Giuliano, Itália, 1962). Direção: Francesco Rosi. Rot. Original: Suso Checchi D´Amico, Enzo Provenzale, Francesco Rosi & Franco Solinas. Fotografia: Gianni Di Venanzo. Música: Piero Piccioni. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Sergio Canavari & Carlo Egidi. Figurinos: Marilú Carteni. Com: Salvo Randoni, Frank Wolff, Sennuccio Benelli, Pietro Cammarata, Max Cartier, Guiseppi Teti, Bruno Okmar, Frederico Zardi.

A figura de Giuliano (Cammarata) se torna legendária após sua participação nas batalhas separatistas da Sicília. A busca por ele tem como motivação principal um massacre célebre da época da Segunda Guerra em Portella della Ginestre. O sucesso de Giuliano se deve, em grande parte, ao enorme ressentimento do povo siciliano, miserável e desassistido, com o governo central romano, sendo cúmplice de seus esconderijos. Também é importante sua ligação com a Máfia. A captura de Giuliano envolverá operações enormes como a detenção de toda a população masculina do vilarejo de Montelepre e o prolongada julgamento do braço direito de Giuliano, seu primo Pisciotta (Wolff). A traição e morte de Giuliano se dará pelas mãos do próprio Pisciotta, sendo forjada posteriormente como tendo sido pela polícia.

Pouco interessa a Rosi acompanhar de perto o mito Giuliano. O realizador se detém menos no processo de mistificação/midiatização do herói-bandido que em descrever todos os bastidores do processo de captura de Guiliano para apresentar um retrato sofrido do povo siciliano e a enorme teia de corrupção envolvendo igualmente a polícia e a Máfia. Nesse duplo retrato, que mescla pobreza e corrupção, fotografado em um límpido preto&branco que é evocativo de outras produções contemporâneas tais como Banditi a Orgosolo (1960), ainda que sua descrição completamente distanciada de Giuliano – somente o observamos de longe ou já morto – seja o extremo oposto da escolhida por De Seta para seu pequeno criminoso. Há uma evidente influência do Neorrealismo, ainda que o desejo de objetividade aqui vá ainda mais longe, aproximando-se de certo tom documental, quando descreve alguns dos eventos e suas datas em sua narração off. Mais distanciado emocionalmente que os filmes neorrealistas, e com trilha sonora habitualmente mais discreta, o filme, a seu modo, consegue momentos tão portentosos quanto os de Roma: Cidade Aberta, como o do grupo de mulheres que se revolta contra a prisão de seus filhos e maridos. Porém, ao contrário de Rossellini, ninguém está imune à corrupção e as alianças possíveis no jogo do poder e da sobrevivência. E tampouco Rosi parece preocupado em ser minimamente didático para com o espectador, que certamente sentirá dificuldades em compreender toda a labiríntica trama e a posição de cada um dos envolvidos nela.  De todo modo, sua estrutura tampouco está infensa aos elementos dos filmes de gênero, algo que ficaria de certo modo demarcado por sua enorme influência na criação de um próprio subgênero – o do filme de ação ou investigação político que ganharia enorme notoriedade tanto na Itália (por exemplo, Investigação sob um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, de Elio Petri) quanto fora dela (a exemplo de A Conversação, de Coppola ou A Última Testemunha e Todos os Homens do Presidente, de Pakula), sobretudo na década seguinte. Outra versão, bem mais convencional, da história de Giuliano foi O Siciliano (1987), de Michael Cimino. Urso de Prata no Festival de Berlim. Galatea Film/Lux Film/Vides Cinematografica. 123 minutos.

 

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