Filme do Dia: Uma Viagem com Martin Scorsese pelo Cinema Americano - Parte 3 (1995), Martin Scorsese & Michael Henry Wilson

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Uma Viagem com Martin Scorsese pelo Cinema Americano com Martin Scorsese – Parte 3 (A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies, EUA/Reino Unido, França, 1995). Direção e Rot. Original: Martin Scorsese & Michael Henry Wilson. Fotografia: Jean-Yves Escoffier, Frances Reid & Nancy Schreiber. Música: Elmer Bernstein. Montagem: Kenneth Levis & David Lindblom.

Esse terceiro e último episódio está dividido entre os que Scorsese chama de “contrabandistas” e os  “iconoclastas”. Inicia com o impressionante estilo visual do faroeste Homens Indomáveis (1954), de Allan Dwan, de quem observamos generoso trecho, enquanto Scorsese comenta sobre a não tão subliminar crítica a hipocrisia social americana que leva o protagonista quase à morte. Depois ele passa para tal dimensão no plano do melodrama com Tudo Que o Céu Permite (1955), de Sirk, incluindo a magistral cena-chave em que os filhos presenteiam a mãe com uma TV, símbolo de um conformismo no qual ela se vê enquadrada, sem esquecer que a televisão era a ameaça contemporânea declarada ao próprio cinema. E James Mason como o pastor drogado que atormenta sua família em Delírio de Loucura (1956) foi escolhido para representar o modo de Nicholas Ray abordar o que havia mais de perto dentro do Sonho Americano. Aqui, a ameaça a integridade física e moral da família americana padrão não surge de fora, como rezava a tradição desde Griffith, mas do próprio chefe dela. Como não destacar o modo direto, quase obsceno, que Sam Fuller observa o encontro entre uma prostituta e um batedor de carteiras em Anjo do Mal (1953), assim como seus comentários cínicos sobre temas caros à sociedade americana contemporânea tais como a guerra fria nesse filme e o racismo e o patriotismo em Paixões que Alucinam (1963)? A decadência da visão glamurosa de Hollywood, mesmo quando tratada de forma ácida, apresenta-se em A Cidade dos Desiludidos (1962), onde no ambiente da Cinecittà (ironia para com o cinema americano que havia emigrado para a Europa em busca de custos mais baratos) se assiste a uma exibição do material filmado em que a mão da atriz pousada sobre a perna do produtor resume tudo.  Entre os que Scorsese chama de iconoclastas, volta-se no tempo ao Lírio Partido (1919), de Griffith, demonstrando que os mais visados realizadores também podiam ter seus momentos de ousadia, apresentando o que acredita ser o mais intenso relacionamento inter-racial do cinema americano. E, logo a seguir passa as imagens em technicolor pioneiro e a devastadora visão da aristocracia de Von Stroheim em  Marcha Nupcial (1928). Os filmes com temática social da Warner do início da década de 30, apresentando com bastante crueza um universo de presidiários e párias da sociedade americana: Hell´s Highway (1932), de Rowland Brown e Idade Perigosa (1933), de William Wellman. Do primeiro o impressionante processo de mortificação e confinamento que leva ao suicídio de um prisioneiro e a revolta na prisão. Do segundo, um momento em que um dos caronistas de trem tem parte de seu corpo atingido pelo próprio enquanto foge das autoridades. Duas visões do Pesadelo Americano. Da estilização provocativa de Sternberg, o exato oposto do realismo cruel de Stroheim, Scorsese escolhe A Imperatriz Vermelha (1934). Talvez o mais radical de todos os iconoclastas seja também o mais jovem é o que afirma o realizador para apresentar o cartão de visitas de Orson Welles, Cidadão Kane (1941), apresentando igualmente o prólogo de Soberba (1942), além de um trecho de entrevista de Welles para a TV. Outro mestre iconoclasta, Chaplin, é lembrado por seu O Grande Ditador (1940). A revolução na interpretação e costumes trazida por Kazan com Uma Rua Chamada Pecado (1952). Abertura que levou a que outros, como Otto Preminger, fosse além com O Homem do Braço de Ouro (1955), primeira descrição franca de um viciado. O realizador norte-americano radicado na Inglaterra Alexander Mackendrick é lembrado pelo pouco conhecido A Embriaguez do Sucesso (1957), um comentário sobre a paranoia dos anos McCarthy no universo da Broadway. A sátira política de Cupido não tem Bandeira (1960), de Billy Wilder. Bonnie & Clyde (1967), de Arthur Penn, traz a violência a novos limites. Dois momentos de Kubrick: Lolita (1963) e Barry Lyndon (1975), de quem Scorsese destaca a impecável coreografia de movimentos atrelada ao uso da trilha sonora e de uma iluminação que consegue registrar as velas de um jantar, além do distanciamento da narrativa, que não consegue esconder a paixão que se esconde por trás das convenções sociais. A filmagem dos dramas da busca do amor em Faces (1968), de Cassavetes, sendo que o próprio logo irá complementar o que lhe interessa no cinema em uma entrevista. Scorsese presta um tributo final a realizadores que admira e não entraram na lista dos que tiveram trechos de filmes exibidos:  Tod Browning, James Whale, Gregory La Cava, Don Siegel, Jean Renoir, John Huston, George Stevens, Alfred Hitchcock, etc. Ao mesmo tempo, opta por deixar de lado os companheiros de sua geração, por acreditar não possuir o distanciamento possível, para os abordar, postura oposta a efetuada por Oshima no episódio que representa o cinema japonês na série, 100 Anos de Cinema Japonês. BFI/Miramax Films. 72 minutos. 

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