Filme do Dia: Antes do Anoitecer (2000), Julian Schnabel

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Antes do Anoitecer (Before Night Falls, EUA, 2000). Direção: Julian Schnabel. Rot. Adaptado: Cunningham O’Keefe, Lázaro Gómez Carriles & Julian Schnabel, baseado nas memórias de Reynaldo Arenas. Fotografia: Xavier Pérez Grobet & Guillermo Rosas. Montagem: Michael Berenbaum. Dir. de arte: Salvador Parra & Antonio Muñu-Hierro. Figurinos: Maria Estela Fernández. Com: Javier Bardem, Olivier Martinez, Andrea Di Stefano, Johnny Depp, Sean Penn, Michael Winncott, Olatz Lopez Garmendia, Pedro Armendáriz Jr., Vito Maria Schnabel, Maurice Compte.
            Já adolescente, Reynaldo Arenas (Schnabel) descobre-se dono de um talento para escrever e do desejo homossexual que marcarão profundamente sua identidade. Abandona sua família e segue os guerrilheiros revolucionários que depõem o governo de Batista. Após ganhar uma menção honrosa em um concurso literário, torna-se próximo de figuras de destaque no cenário cultural cubano, como o escritor Lezama Lima (Compte). Fazendo parte de um círculo de amigos gays, como Pepe Malas (Di Stefano), vive momentos de prazer que logo sucumbem ao rigor da ditadura cubana, que o aprisiona, após uma tentativa desesperada de fuga, por anos em uma penitenciária cheia de criminosos de alta periculosidade. Arenas consegue safar-se escrevendo cartas para os prisioneiros. Em 1980 consegue emigrar para os EUA, com o fiel amigo Lazaro (Martinez), onde irá viver seus últimos anos, combalido com AIDS.

Schnabel consegue neutralizar a inevitável sensação de inverossimilhança que sempre acompanha produções anglo-saxãs (com o agravente de parcial ou totalmente faladas em inglês) que retratam dramas da cultura hispânica, como Lorca, com um genuíno interesse pelo biografado (magnificamente interpretado por Barden) e uma inspirada seleção de imagens, provenientes da própria formação em artes plásticas do cineasta. Entre elas se encontram a fuga de Pepe em um balão que se encontra dentro de uma igreja em que Arenas e seus amigos vivenciaram uma ceia pagã, regada a sexo e bebedeira e outra que contrapõe as ruas de Nova York às de Havana. O homo-erotismo, elemento central para a compreensão do protagonista, não desaparece frente ao morno altruísmo edificante de filmes como Philadelphia, ao mesmo tempo que também não se torna um elemento obsessivo como nos filmes de Derek Jarman,  como na cena em que Arenas, ainda adolescente, observa um grupo de homens banhando-se ou observa o sexo de um amigo no mar. À descrição do contexto histórico cubano, sem meios tons em seu anti-castrimo, não faltam cenas documentais da época da revolução e um discurso de Fidel. O momento que descreve o início da repressão brutal e o fim do sonho de uma liberalização dos costumes é anunciado pela 5ª Sinfonia de Mahler, numa evidente alusão à Morte em Veneza. Schnabel já demonstrara seu interesse em retratar artistas de vida torturada, na acepção romântica do termo, com Basquiat. Os cineastas Hector Babenco e Jerzy Skolimowski aparecem em papéis curtos, enquanto Depp vive dois papéis – como travesti e carrasco. El Mar Pictures/Grandview Pictures.  133 minutos.

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