Filme do Dia: O Ano Passado em Marienbad (1961), Alain Resnais

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O Ano Passado em Marienbad (L´Année Dernière à Marienbad, França/Itália, 1961). Direção: Alain Resnais. Rot. Adaptado: Alain Robbe-Grillet, baseado no romance A Invenção de Morel, de Bioy Casares. Fotografia: Sacha Vierny. Música: Francis Seyrig. Montagem: Jasmine Chasney & Henri Colpi. Dir. de arte: Jacques Saulnier. Cenografia: Jean-Jacques Fabre, Georges Glon & André Piltant. Com: Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi, Sacha Pitoëff, Françoise Bertin, Luce Garcia-Ville, Héléna Kornel, François Spira.
O que menos importa no filme é o enredo. Antes a forma como se configuram diversos tempos narrativos, flashbacks e flashbacks dentro de flashbacks que compõem a talvez mais intrigante tessitura já realizada com a montagem cinematográfica. As situações levam ao (re) encontro entre uma mulher (Seyrig) e um homem (Albertazzi), que alega ter desfrutado de sua companhia em outro local e a presença do provável marido da mulher (Pitoëff) nas imediações. Utilizando interpretações não naturalistas, em que por vezes o elenco permanece estático, assim como repetições ao infinito de situações e diálogos/monólogos, o filme consegue de forma ímpar refletir algumas das sensações ligadas à memória que mais dificilmente se poderiam reproduzir a contento na forma cinematográfica, como a sensação de se estar vivendo uma situação que já ocorreu tal e qual anteriormente. Porém, tal opção por um cerebralismo sem concessões acaba gerando um excessivo formalismo, que o destitui de uma certa aura humanista – presente em Hiroxima, Meu Amor - sendo todas as situações e personagens assumidamente meros instrumentos para a construção matemática do filme. Identicamente a Hiroxima, o filme utiliza-se, com grande efeito, de longos e suaves travellings nos corredores e aposentos do hotel e do castelo onde se situa a história. Obra referencial do cinema moderno, inclusive por ser uma das que mais radicalmente apresenta elementos de ambigüidade e abertura narrativa. A tendência pela utilização da montagem como um quebra-cabeça em que as escolhas dos indivíduos representam situações que mesmo sendo diferenciadas carregam elementos de repetição, de provável influência psicanalítica, continuou presente ao longo da carreira do cineasta, em filmes como Smoking/No Smoking. Muito da estrutura da obra deve-se às influências do contemporâneo noveau roman francês, do qual o roteirista Grillet foi um dos nomes exponenciais. Argos Film/Cineriz/Cinétel/Como Film/Cormoran Films/Les Films Tâmara/Precitel/Silver Films. 94 minutos.


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