Filme do Dia: The Hart of London (1970), Jack Chambers
The Hart of London (Canadá, 1970).
Direção, Fotografia e Montagem: Jack Chambers.
Chambers através de seu título parece
ironizar com as ”sinfonias urbanas” produzidas nos anos 1920, que, na verdade,
refere-se a pequena cidade homônima da célebre capital britânica, situada na
província de Ontario, Canadá. Faz uso de efeitos comuns à vanguarda
contemporânea norte-americana, mas de forma original. Sobretudo da sobreposição
de imagens diversas, imagens em negativo e por vezes aceleração de imagens,
assim como uma banda sonora de ruídos, que auxilia minimamente a propor algumas
associações – assim o motivo recorrente de ruído de um trem sobre trilhos pode
ser associado com imagens vislumbradas da janela, o mesmo se dando com uma
seqüência em que predomina o ruído de água escorrendo sobre imagens majoritariamente
de neve ou água. Tal como numa sinfonia, existem momentos em que a imagem é
quase abstrata dada a rapidez com que as imagens se fundem ou que os
enquadramentos se detém sobre motivos aparentemente insignificantes mas que
acabam ganhando uma belesa inusitada, tal como a parelha de cavalos, em que um
deles tem a graciosidade de seu movimento sublinhada pelo efeito em negativo,
tornando-se praticamente um espectro em relação ao outro. Porém, até mesmo
essas associações são bastante hipotéticas somente, no sentido de que o “tema
sonoro” da água acompanhará também uma seqüência voltada para o corpo infantil e extremamente tátil e igualmente a
morte de ovelhas em um abatedouro e o nascimento de um bebê (descrito com a
sede pela reprodução típica de certos cinemas novos do momento, inclusive de
modo mais detalhado que o aborto observado em O Trabalho de uma Escrava, de Alexander Klüge, de três anos após),
sugerindo o ciclo incessante de vida e morte.
As associações entre a banda sonora e as imagens são postas à prova
quando imagens bastante díspares, incluindo uma com a presença de um trem,
continuam a ter como fundo sonora o barulho da água. Quando não se espera mais
que a trilha se transforme, próximo ao final, ocorre uma ruptura com um breve
momento em que se escuta ruídos de pássaros, consonante com a seqüência vista
pouco antes e inclusive se chega a fazer uso aparentemente de som direto em
umas breves tomadas, mesmo que eles sejam utilizados posteriormente sob outras
imagens, como o sussurro que adverte sobre a necessidade “deles terem cuidado”,
referindo-se às crianças que alimentam os cervos. Por mais interessante e mesmo
bela que seja essa colagem ela se ressente de qualquer eixo que a oriente de
forma mais coesa ao contrário de muitos dos experimentos dos anos 20,
notadamente O Homem com a Câmera,
de Vertov. Canadian Filmmakers Distribution Centre. 80 minutos.
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