Filme do Dia: Fruto do Paraíso (1970), Vera Chytilová

Resultado de imagem

Fruto do Paraíso (Ovoce Stromu Rajských Jimé, Tchecoslováquia/Bélgica, 1970). Direção: Vera Chytilová. Rot. Original: Vera Chytilová (diálogos) & Esther Krumbachová. Fotografia: Jaroslav Kucera. Música: Zdenek Liska. Montagem: Miroslav Hájek. Dir. de arte: Vladimír Lubský. Figurinos: Esther Krumbachová & Bohumila Marsalková. Com: Jitka Novákova, Karel Novak, Jan Schmid.

Uma mulher (Novákova) se divide entre o marido, Josef (Novak) e o amante (Schmid). Ainda que por vezes sua falta de qualquer concessão a uma narrativa mais ortodoxa provoque uma nostalgia do cinema clássico e seu insistente mosaico de situações dispares acabe por privilegiar mais as partes que o todo, é inegável o talento criativo de Chytilová. Sua música minimalista (antecipadora, ao menos no prólogo, do Philip Glass em Koyaanisqatsi), narrativa fragmentada, a voz infantil da protagonista e as interpretações não naturalistas criam uma atmosfera surreal e onírica de conto de fadas (algumas vezes evocativa de O Cão Andaluz, de Buñuel). Seu uso igualmente não naturalista e expressivo das cores, por sua vez, sugere uma aproximação com Paradjanov (que realizava contemporaneamente seu A Cor da Romã). O filme certamente se vincula a uma vertente grandemente alegórica do cinema moderno, que teve seu pique no final dos anos 60 e idos da década seguinte (no Brasil, representado por filmes tais como Orgia ou o Homem que deu Cria), ainda que aqui mais voltado para angústias envolvendo a sexualidade, sobretudo no que diz respeito ao complexo exercício do desejo na relação entre gêneros que remonta a cena do pecado original, criativamente ilustrado sobretudo nas sobreimpressões de imagens caleidoscopicas sobre os corpos desnudos do casal em seu prólogo. Ainda que a sexualidade seja mais enfatizada, tampouco pode se descartar discretas alusões políticas, como o fato do marido repressor,  metáfora de uma reação masculina à crescente emancipação feminina, chamar-se como Stálin, Josef. Como em Paradjanov o filme está repleto de soluções visuais simples, mas surpreendentes, tal como o véu vermelho deslizando pela mata, que ao primeiro momento mais parece um filete de sangue. Elizabeth Films/Filmové Studio Barrandov. 99 minutos. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso