Filme do Dia: A Casa das Amarguras (1958), Philip Dunne
A Casa das Amarguras (Ten North Frederick,
EUA, 1958). Direção: Philip Dunne. Rot. Adaptado: Philip Dunne, a partir do
romance de John O’Hara. Fotografia: Joseph MacDonald. Música: Leigh Harline.
Montagem: David Bretherton. Dir. de arte: Addison Hehr & Lyle R. Wheeler.
Cenografia: Eli Bennech & Walter M. Scott. Figurinos: Charles Le
Maire. Com: Gary Cooper, Diane Varsi, Suzy Parker, Geraldine Fitzgerald, Ray
Stricklyn, Tom Tully, Philip Ober, John Emery, Stuart Whitman, Barbara Nichols.
Após a morte do pai, o respeitado Joseph B.
Chapin (Cooper), Ann Chapin (Varsi), sua filha, passa a ruminar sobre o difícil
e decadente período que compreende os últimos anos da vida dele, marcados pelo
alcoolismo, com o irmão Joby (Stricklyn), enquanto todas as autoridades locais
chegam a residência da família Chapin. Dentre as memórias amargas se encontram
o envolvimento de Ann com o músico Charley Bongiorno (Whitman), que é comprado
pelo pai para se afastar da filha, enquanto essa “sofre um aborto”. O irmão,
que pretendia seguir carreira como músico, dobra-se as pressões familiares e
vai estudar em Yale, trilhando carreira como militar. No dia que observa a
filha na cama, indignada com o que fizeram com ela, em grande parte uma ação
motivada pelos anseios políticos do pai, esse, que nunca cometeu uma
infidelidade em seu casamento, ouve da mulher que essa o traíra no passado.
Tempos depois, com a filha morando em Nova York, Joe apaixona-se perdidamente
por sua companheira de moradia, a modelo Kate Drummond (Parker). A relação dos
dois é vivida na clandestinidade e após algumas ilusões, Joe afirma que é
melhor enfrentarem a realidade. Pouco antes de morrer, em uma conversa com a
filha, fica sabendo que ela será dama do casamento de Kate. A filha, no dia do
casamento, soube da relação do pai com a amiga e fica feliz por descobrir que
esse teve algum alento no final de sua vida.
Esse pesado drama faz parte de todo um ciclo
de filmes da segunda metade da década que reavaliam parâmetros do Sonho
Americano, apresentando uma dimensão melancólica, e mesmo de pesadelo no
interior desse (Gata em Teto de Zinco Quente, Delírio de Loucura, Juventude Transviada, Vidas Amargas, A Caldeira do Diabo, dentre tantos outros). Aqui o pai idealizado
por Ann é capaz de não apenas afastar o homem que a filha ama quanto de
induzi-la ao aborto, ainda que o médico faça menção a um aborto espontâneo. A
mãe, por sua vez, somente pensa no mundo das aparências, sendo demasiado
calculista e pouco afetiva. É de forma quase prazerosamente perversa que o
filme se utiliza de Cooper, quase uma instituição a encarnar os ideais
americanos nos filmes de Capra duas décadas antes, como uma personagem que se
não chega a ser vilanesca, apresenta traços de fraqueza moral impensáveis para
seus personagens anteriores, num processo similar ao que Ford operará com John
Wayne em Rastros de Ódio. Como nos
filmes de Nicholas Ray, a escada é um local propício para explosões catárticas,
no caso aqui movida a álcool, realizada pelo filho diante de todos que se
encontram para prestar seu tributo ao pai falecido. A personagem, por sinal,
caberia como uma luva para os tipos vulneráveis encarnados por James Dean pouco
antes. Ainda que a conversa entre os
irmãos ao início do filme sugira, de forma não muito explícita, que os flashbacks que acompanhamos são
decorrentes da conversa deles, como é mais que comum não se pode encaixar de
forma verossímil tudo que é apresentado a partir somente do conhecimento de
ambos. À tentativa de contemporização final, mesmo soando generosa por parte da
filha, não é exatamente correta do ponto de vista do que fora apresentado pelo
filme, já que é o término da relação extraconjugal com Kate, situação que como
a do aborto da filha, seria impensável de ser apresentada de forma similarmente
aberta nas duas décadas anteriores que faz com que o pai se entregue de vez à
bebida. A solução visual da cena final, com noiva e dama se apresentando para
um casamento que não interessa em si próprio à narrativa, e do qual não
observamos ninguém além das duas, é uma
saída ao mesmo tempo elegante e irônica diante de tudo o que fora anteriormente
apresentado. Filmado, como Almas
Maculadas de Sirk, em Cinemascope e p&b. Destaque para a ponta de
Barbara Nichols, interpretando uma loura burra (e no caso aqui evidentemente
prostituta) que faz referência visual a Marilyn Monroe, usando um vestido cujo
corte é evocativo a um dos utilizados por Monroe em O Pecado Mora ao Lado.
Dunne, é um dos poucos cineastas-roteiristas da Hollywood de sua época,
embora a última função possua ascendência em sua carreira de cineasta bissexto,
tendo escrito roteiro para diversos outros realizadores como Mankiewicz (O Fantasma Apaixonado), Elia Kazan (O Que a Carne Herda) ou John Ford (Como Era Verde o Meu Vale). 20th Century Fox Film
Corp. 102 minutos.
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