Filme do Dia: Adolfo & Marlene (1973), Ulli Lommel
Adolfo & Marlene (Die Zärtlichkeit der Wölfe, Alemanha, 1973). Direção: Ulli Lommel. Rot.
Original: Kurt Raab. Fotografia: Jürgen Jürges. Montagem: Thea Eymèsz & R.W.
Fassbinder. Dir. de
arte: Kurt Raab. Cenografia: El Hedi Ben Salem.
Com: Kurt Raab, Jeff Roden, Margit Cartensen, Ingrid
Caven, Wolfgang Schenck, Brigitte Mira, Rainer Hauer, Rainer Werner Fassbinder,
El Hedi Ben Salem.
Na Alemanha dos anos da Segunda
Guerra, Fritz Haarman (Raab) é um homossexual que comete assassinatos em série
de jovens rapazes e serve a carne dos rapazes mortos para seu círculo de amigos
antropófagos. Tido pela polícia apenas como contrabandista e corruptor de
menores, é flagrado, após a denúncia de uma vizinha vigilante, Frau Lindner
(Cartensen).
Ainda que possa equivocadamente ser
confundido com um Fassbinder menor, dada à extrema semelhança estilística, que
vai dos créditos inicias, passa pela montagem (não por acaso efetuada pelo
próprio Fassbinder e sua montadora da época) e distanciamento emocional com que
a história é narrada, além de contar com toda a trupe de atores do círculo de Fassbinder, incluindo o próprio, que também o produziu, não se pode dizer que o filme teve a mesma
densidade que um filme equivalente, o de Elaine May, em relação à filmografia
de outro realizador autoral, Cassaventes (Mikey and Nicky). Falta em Lommel algo que vá além da narrativa e um maior senso
de ritmo. Enquanto Fassbinder parece trabalhar sempre com um jogo complexo
entre distanciamento e identificação, aqui apenas se fica com o primeiro
elemento. Nesse sentido, não se pode conseguir qualquer identificação com o
perverso protagonista, algo que Fassbinder conseguiu até de alguns de seus
personagens mais vis. E, por outro lado, há um sensacionalismo over, como na seqüência em que se acompanha
o ritual do assassino com sua última vítima, mostrando detalhes até então não
observados. Essa cena, assim como o próprio canibalismo soam gratuitas, ainda
que pretendesse servir como metáfora
política para uma classe média baixa mesquinha e conformada, cúmplice do mal
tal como no auge do nazismo. Por outro lado, o que se poderia imaginar como
mera solidariedade de grupo entre pequenos contraventores à princípio, demonstra
ser por interesses próprios bem específicos. Raab, que também já havia sido
utilizado por Fassbinder em papel semelhante, vive aqui um personagem que
possui vários paralelos com o assassino vivido por Peter Lorre (com quem guarda
algumas semelhanças) em M (1931), de
Fritz Lang, inclusive nas suas declarações finais antes de ser executado. Não
por acaso, já que o psicopata que inspirou o filme viveu durante a I Guerra
Mundial e foi a inspiração para o filme de Lang. Tango Film. 82 minutos.
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