Filme do Dia: As Cariocas (1966), Fernando de Barros, Walter Hugo Khouri & Roberto Santos
As Cariocas (Brasil,
1966). Direção: Fernando de Barros, Walter Hugo Khouri & Roberto Santos.
Roteiro: Sérgio Porto & Roberto Santos. Música: Rogério Duprat. Montagem:
Maria Guadalupe. Com: Norma Bengell, John Herbert, Walter Foster, Sérgio
Hingst, Célia Biar, Íris Bruzzi, Lilian Lemmertz, Jacqueline Myrna, Mário
Benvenutti.
1º
episódio. Paula (Bengell), fútil mulher da elite carioca, decide como conseguir
o carro de seus sonhos, dos quais só existem dois exemplares no país, sendo um
da esposa (Biar) de seu amante. Ela conhece o proprietário do outro carro, Cid
(Herbert), um playboy inconseqüente. Pede para que o marido dê um preço muito
menor que o valor do carro e o restante seja completado pelo amante. Porém, o
plano não se concretiza, quando o marido decide dar o carro de presente para
sua amante que é noiva de Cid. 2º episódio. Um dia na vida de uma jovem classe
média, que angustia-se entre a solidão e o tédio, passando a maior parte do
tempo sem o marido, sempre viajando à trabalho e visitando o amante adoecido.
3º episódio. Jovem modelo promissora relembra, em um estúdio de televisão, suas
pontas no cinema e televisão, enquanto rebela-se contra o que acredita ser a
hipocrisia do programa televisivo e da população que danificou seu carro após
um conflito que culminou em sua tentativa de fazer strip-tease diante da pequena multidão.
O
filme parte do mais fraco para o melhor episódio. O primeiro possui contra si o
fato de contaminar-se pelo tom caricatural e ligeiro com que apresenta seus
próprios personagens, com intuito de frisar a promiscuidade sexual generalizada
da elite nacional (uma das obsessões do Cinema Novo). O segundo tenta construir
uma atmsfera psicológica de vazio existencial à la Antonioni, utilizando-se de
tempos mortos e pouca dependência de diálogos. Porém, o seu curto tempo não
permite que essa construção seja plenamente satisfatória, assim como a
utilização de cacoetes de estilo que, em visão retrospectiva, não parecem ir
além disso (um breve plano da protagonista na cama, por exemplo, é repetido
quatro vezes). Já o terceiro, é uma engenhosa paródia da hipocrisia moral da
sociedade de então e de sua mídia, utilizando-se de recursos como a imagem
dentro da imagem (acompanhamos boa parte do que acontece através dos monitores
de estúdio), fotos fixas, imagens de arquivo (novela da TV Globo O Xeique de Agadir) e referência a
alguns dos astros da chanchada (Zezé Macedo, Ankito e José Lewgoy aparecem em
uma ponta, como eles mesmos). Seu tom paródico e auto-referencial (a certo
momento, o apresentador indaga se a atriz não fora descoberta pelos cineastas
do Cinema Novo) antecipa muito do humor e da ironia do Cinema Marginal, em filmes
como O Bandido da Luz Vermelha
(1968), de Sganzerla. No prólogo, um narrador enfatiza alguns clichês
associados ao Rio, como o futebol, as praias e a preguiça. Wallfiles/A.A.S
Filmes. 110 minutos.
Comentários
Postar um comentário