Filme do Dia: A Coroa de Ferro (1941), Alessandro Blasetti
A Coroa de Ferro (La
Corona di Ferro, Itália, 1941). Direção: Alessandro Blasetti. Rot.
Original: Corrado Pavolini, Gugliemo Zorzi, Guisseppe Zucca, Alessandro
Blasetti & Renato Castellani, a partir de argumento de Blasetti &
Castellani. Fotografia: Mario Craveri & Václav Vich. Música: Alessandro
Cicognini. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Virgilio Marchi. Figurinos:
Gino Sensani. Com: Massimo Girotti, Elisa Cegani, Luisa Ferida, Gino
Cervi, Rina Morelli, Osvaldo Valenti,
Paolo Stoppa, Primo Carnera.
Sedemond (Cervi) se impõe no campo de batalha
após assassinar o irmão e se auto-proclamar o novo rei de Kindaor. A
continuidade de seu governo depende do nascimento de um filho homem, mas
Arminio, ele descobrirá, é filho da irmã de sua esposa e não seu, tendo nascido
uma menina, Elsa. Sedemond ordena que a criança seja levada ao desolado Vale
dos Leões, para lá perecer. Para sua surpresa Arminio (Girotti) reaparece já
homem feito numa série de duelos para a conquista da mão da filha do rei, Elsa
(Cegani). Junto com ele vem Tundra (Ferida), filha do antigo rei, que pretende
reconquistar o poder.
Um dos filmes mais apreciados do
cinema italiano produzido sob o fascismo parece ter envelhecido bem pior do que
produções que na época ganharam bem menos valoração, ao menos no exterior, como
alguns dentre os primeiros filmes de Rossellini. O filme pode ser considerado
um longínquo antecessor de produções épicas igualmente fantasiosas
hollywoodianas contemporâneas (tais como a série O Senhor dos Anéis), mesmo que aqui não se faça uso dos efeitos
especiais como um dos chamarizes e elementos principais do filme, ainda que se
encontre longe de ser pioneiro nesse sentido (basta lembra a saga dos Nibelungos, de Lang, produzida duas
décadas antes). Sua dimensão mitológica serve sem dúvida como amortecedor de
qualquer cobrança de verosimilitude quanto a figura de um Armínio-Tarzan, que
consegue não apenas crescer como desenvolver uma linguagem na comapanhia
somente de animais. Apesar das interpretações serem razoáveis, o filme parece
soar tão em falso quanto seus evidentes cenários estilizados. Faz uso de dois
dos mais emblemáticos atores do período, Cervi e Girotti (que curiosamente
também atuaria no filme considerado mais anti-fascista da produção anterior ao
final da Guerra, Obsessão). A nudez
e semi-nudez também ganha relevância de uma maneira bem mais erotizada do que a
contemporaneamente presente no cinema alemão do período, tal como na cena do
seio descoberto de Cegani ou nos trajes inversamente proporcionais aos
atributos físicos do galã Girotti, grandemente inexpressivo e mesmo ridículo em
seus saltos como herói de matinée seriada
– aliás talvez o que torne o filme mais estranho ao olhar de hoje seja
justamente essa indefinição entre certa gravidade e pompa e a evidente
proximidade com o entretenimento popular, algo ao qual os filmes da série
Maciste ao menos se encontravam livres ao inclusive diluírem de modo bem mais
orgânico referências de um cinema de maior pretensão. Essa dispersão
estilística, somada à própria falta de objetividade, compromete a própria
integridade da narrativa, como se já não bastasse o fato de vários atores
viverem mais de um papel. Algo também bastante presente nas dispersas
referências culturais, que vão de uma seqüência digna de Tarzan a várias
referências a Shakespeare, que incluem a figura da tecelã que faz às vezes de
oráculo (figura que Kurosawa fará magistral uso em seu Trono Manchado de Sangue), enquanto trança os destinos dos
personagens. ENIC/Lux Film para ENIC. 83 minutos.
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