The Film Handbook#143: Michael Curtiz

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Michael Curtiz
Nascimento: 24/12/1888, Budapeste, Hungria
Morte: 11/04/1962, Los Angeles, Califórnia, EUA
Carreira (como realizador): 1912-62

Embora seja impossível descobrir qualquer continuidade temática na prolífica carreira de Michael Kertész, para ficar com seu nome húngaro, a perícia e versatilidade assegurou sua duradoura reputação como fornecedor de elegante escapismo.

O alto nível de Curtiz na nascente indústria de cinema húngara (ele é frequentemente creditado como diretor do primeiro longa húngaro) foi seguida por seu trabalho na Escandinávia, França, Alemanha e Áustria. Por volta de 1926, foi convidado aos Estados Unidos pela Warner Brothers, o estúdio ao qual permaneceria contratado até 1953. De seus primeiros filmes, o parcialmente falado A Arca de Noé/Noah's Ark é o mais conhecido, em grande parte por conta de sua encenação das enchentes ter posto em risco centenas de vidas de extras. Consolidando seu sucesso com  fantasias expressionistas - O Monstro/Dr.X, Os Crimes do Museu/The Mystery of the Wax Museum (em extravagante Technicholor em duas cores) e thrillers de ritmo agitado como 20.000 Anos em Sing-Sing/20.000 Years in Sing-Sing e Miss Repórter/Front Page Woman, Curtiz embarcou nos primeiros dos doze filmes que realizaria com o então desconhecido Errol Flynn (O Capitão Blood/Captain Blood, As Aventuras de Robin Hood/The Adventures of Robin Hood>1 e O Gavião do Mar/The Sea Hawk), misturando ação, humor de duplo sentido e cenários épicos para criar uma aventura genuinamente impetuosa. Ao mesmo tempo, ele continuava a trabalhar em outros gêneros: o filme de boxe (Talhado Para Campeão/Kid Galahad), drama gangster (Anjos de Cara Suja/Angels With Dirty Faces>2), westerns (Uma Cidade Que Surge/Dodge City, A Estrada de Santa Fé/Santa Fé Trail) e uma versão arrebatadora de O Lobo do Mar/The Sea Wolf, da história de um sádico e tirânico capitão do mar de Jack London.

Portanto, distante de um toque visual próprio, uma média de produção febril (quatro filmes por ano nos anos 30) e um direito de escolher atores a serem contratados - Robinson, Bogart, Cagney, Bette Davis - assegurou-lhe sucessos com regularidade. Em 1942, no entanto, Curtiz ultrapassou as expectativas com A Canção da Vitória/Yankee Doodle Dandy, um musical patriótico sobre George M.Cohan, com Cagney apresentando sua notável dança e Casablanca>3. Originalmente um projeto rotineiro para Ronald Reagan e Ann Sheridan, sendo substituídos por Bogart e Ingrid Bergman, tornar-se-ia um marcante triunfo. Um filme de propaganda simplesmente romanceada - o cínico proprietário de um café expatriado abandona todas as esperanças de se unir com uma antiga paixão, quando descobre seu próprio compromisso com os Aliados, representados por seu marido, então herói da Resistência - é memorável por seu roteiro sardônico, conjunto de interpretações (Claude Rains, Paul Henreid, Sidney Greenstreet e Peter Lorre como coadjuvantes) e mescla lustrosa de exotismo e fatalismo. Nunca profundo nem emocional nem moralmente, revela o fácil profissionalismo de Curtiz em seu auge.

Mais artisticamente satisfatório foi uma versão de Alma em Suplício/Mildred Pierce>4, de James M. Cain, um tenso híbrido de filme noir com melodrama, que descreve a loucura da excessiva devoção maternal; apesar de Mildred (Joan Crawford, que ganhou o Oscar por ele) conquistar sua independência dos homens, trabalhando numa carreira bem sucedida de garçonete à dona de um restaurante, seu compromisso persistente com uma filha ingrata a conduz somente ao assassinato. De forma não muito surpreendente, tal pessimismo subversivo foi equilibrado no mesmo ano pela pungente pastoral americana Nossa Vida com Papai, evidenciando a indiferença de Curtiz com as "mensagens".

Nos anos 50 sua  carreira entrou em declínio com uma série de musicais obsoletos (Natal Branco/White Christmas e o Talhado Para Campeão/Kid Galahad de Presley)  e mornas biografias; distante dos Warners, sua falta de originalidade e ambição se tornaram mais evidentes. Nos anos iniciais, entretanto, quando se encontrava preparado para aceitar qualquer tarefa do estúdio, sua narrativa limpa e cheia de energia e estilo visual frequentemente foram como uma luva para um entretenimento elegante.

Cronologia

Os primeiros filmes de Curtiz foram vagamente influenciados pelo visual do Expressionismo Alemão. Sua influência, à parte as varias homenagens a Casablanca (incluindo Sonhos de um Sedutor/Play It Again, Sam) é diminuta; ele pode ser comparado a figuras como Victor Fleming, Mervin LeRoy, Jean Negulesco e outros profissionais versáteis. 

Leituras Futuras
The Hollywood Professionals, Vol.1 (Londres, 1973), de Kingsley Canham.

Destaques
1. As Aventuras de Robin Hood, EUA, 1938 c/Errol Flynn, Olivia De Haviland, Basil Rathbone

2. Anjos de Cara Suja, EUA, 1938 c/James Cagney, Pat O'Brien, Humphrey Bogart

3. Casablanca, EUA, 1942 c/Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid

4. Alma em Suplício, EUA, 1945 c/Joan Crawford, Zachary Scott, Ann Blyth

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 69-70.


Comentários

  1. Desculpe discordar de parte do texto. Curtiz foi um dos melhores diretores de todos os tempos. É altamente subestimado por causa da sua opção por fazer o melhor filme possível dos roteiros, sem se preocupar em adaptar esses roteiros para destacar a sua personalidade.
    Ele não se interessava em realizar projetos pessoais. Parece que o desafio de transformar um roteiro em um grande filme é que o estimulava.
    Ele não ficava, como muitos, deixando sua marca no maior número de lugares possíveis, como o personagem Zorro.
    Muitos dos melhores artistas de todos os tempos não tinham as precupações que hoje são chamadas de "autorais".
    Comparar Curtiz com Fleming, LeRoy e Negulesco foi infeliz. Fleming foi um diretor de muito talento, LeRoy dirigiu grandes filmes na Década de 1930 e Negulesco foi um diretor de bom nível que, por alugar seu talento a produtores pouco expressivos, dirigiu muito mais filmes fracos do que bons.
    Finalmente, a maioria dos artistas decaem quando envelhecem. Curtiz foi apenas um deles. Isso aconteceu com muitos grandes cineastas.

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  2. Olá. Não há porque se desculpar por seus comentários, eles são bem vindos e enriquecem e modulam o texto, que não é meu. é uma tradução de um crítico e curador britânico que me influenciou bastante na minha trajetória cinéfila, Geoff Andrew, e muitas vezes, mas nem sempre, bate com minhas percepções. ele, inclusive, curtiu muito que eu tenha traduzido o livro dele em conta gotas, quando tinhámos contato via twitter, sendo que minha conta depois foi apoderada (saqueada).

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  3. Há uma outra tradução no blog, inclusive, que me parece mais simpática ao realizador: https://magiadoreal.blogspot.com/2021/04/o-dicionario-biografico-de-cinema77.html

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  4. caso não consiga acessar o link, somente ir no item o dicionário biográfico de cinema e ir ao nome do realizador

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