Filme do Dia: O Fatalista (2005), João Botelho
O Fatalista (Portugal/França, 2005). Direção: João Botelho.
Rot. Adaptado: João Botelho, a partir do romance Jacques Le Fataliste, de Denis Diderot. Fotografia: Edmundo Díaz.
Música: Lhasa. Montagem: Renata Sancho. Dir. de arte: Catarina Amaro. Com:
Rogério Samora, André Gomes, Rita Blanco, Suzana Borges, Patrícia Guerreiro,
José Wallenstein, João Baptista, Maria Emília Correia, Teresa Madruga, Miguel
Monteiro.
Um motorista, Tiago (Samora) e seu
patrão (Gomes) viajam por Portugal. O patrão se interessa em ouvir as histórias
de amor vividas por seu chofer. As mesmas são interrompidas episodicamente seja
por um acidente de automóvel, seja pela hospedagem num bordel, seja numa
estalagem, no qual a proprietária (Borges), encarrega-se de contar sua própria
história. Na narrativa da dona da estalagem, a Sra. D (Blanco) arma uma trama
para que seu amante, o Marquês (Wallenstein) apaixone-se pela prostituta
Bárbara (Guerreiro), que ela transformara em virginal dama da alta sociedade.
No dia seguinte, Tiago e o Patrão retornam à estrada, mas Tiago se recusa a
contar como termina sua história, sendo a mesma contada pelo diretor do filme
(Monteiro).
Influenciado grandemente por Bresson
– a narrativa da dona da estalagem faz menção direta a As Damas do Bosque de Boulogne – o cineasta compôs essa curiosa
adaptação de Diderot, na qual a narrativa que ainda possui um eixo mais
convencional e contínuo ironicamente não faz parte do núcleo principal
representado por patrão e motorista. Essa inserção, no entanto, torna-se bem
mais sucedida que a outra efetivada posteriormente, à guisa de fazer menção ao
já batido recurso meta-linguístico de comentários sobre o material filmado
(sendo que o diretor do filme não é o próprio Botelho). Como na maior parte das
obras modernas do cinema, há uma profusão extrema de narradores que vão da
dupla principal, a dona da estalagem, o diretor e um narrador off que comenta
boa parte das ações. Com alguns momentos hilários, como a evocação da infância
de Tiago, seu senso de humor, no entanto, a maior parte do tempo é calcado nos
ditos do texto original reproduzidos no personagem do motorista, sendo que as
“jóias de espírito” que esse proclama tendem a se tornar progressivamente menos
estimulantes. Botelho que compõe juntamente com João César Monteiro e Manoel de
Oliveira, a tríade do cinema autoral português mais emblemática, pretende
reproduzir sobretudo o senso de mundo observado por Diderot de que a humanidade
se resume a luta de classes e ao sexo. Madragoa Filmes/Gémini Films/ICAM/RTP.
99 minutos.
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