Filme do Dia: Serenata Tropical (1940), Irving Cummings
Serenata Tropical (Down Argentine Way, EUA, 1940). Direção: Irving
Cummins. Rot. Original: Darrell Ware & Karl Tunberg, a partir do argumento
de Rian James & Ralph Spence. Fotografia: Ray Rennahan & Leon Shamroy.
Música: Cyril J. Mockridge. Montagem: Barbara McLean. Dir. de arte: Richard Day
& Joseph C. Wright. Cenografia:
Thomas Little. Figurinos: Travis Banton.
Com: Don Ameche, Betty Grable, Carmen Miranda, Charlotte Greenwood, J.
Carrol Naish, Henry Stephenson, Kay Aldridge, Leonid Kinskey.
Ricardo Quintana (Ameche)
é um dândi argentino que se encanta pela norte-americana Glenda Crawford
(Grable) em Nova York. Ela se encanta igualmente por um dos cavalos de
Quintana, que ele, por birra do pai (Stephenson), vende para outra mulher.
Glenda viaja com a tia Binnie (Greenwood) à Argentina e lá reencontra Quintana,
não hesitando mais sobre de quem será seu coração. Sua tia, por sua vez, diverte-se com Tito
Acuna (Kinskey).
O filme de estreia de
Miranda no cinema norte-americano já apresenta todos os clichês de comédia
musical que acompanharão seu filme seguinte (Uma Noite no Rio) e quem sabe outros: cenários estilizados a dedo
para as berrantes cores do technicolor – trata-se do momento em que ocorre a
transição dos musicais em p&b da RKO para as cores, processo que a Fox, e
não a Metro, foi pioneira – ambientados em “locais exóticos” (aqui Buenos
Aires, lá Rio), uma loura (aqui Grable, lá Alice Faye) e um carismático galã
latino vivido pelo mesmo Don Ameche e também personagens de apoio bastante
similares (não falta sequer a tia de Glenda/Grable (uma herança do pioneiro Voando para o Rio? Assim como o ansioso
tipo vivido por Leonid Kinskey, uma versão um pouco mais suavizada e inócua do
lobo “maníaco” por louras das animações de Tex Avery?); assim como cenas de
encontros (e desencontros) em varandas com vistas românticas (evidentemente
sobrepostas em back
shot) e música incidental idem; e ainda o pot-pourri das canções ouvidas
ao longo do filme ao final. Curiosamente embora o filme seguinte seja o
primeiro a compartilhar da Política da Boa Vizinhança, não cometendo as gafes
que lhe provocariam o ódio junto ao público portenho, como os números musicais
repletos de rumbas ou números musicais cantados em português por Carmen e sem
um tango sequer, além de personagens estereotipados e caricatos de argentinos,
tais como o motorista sempre a cochilar ou um gaúcho aloprado como Casiano e uma
Argentina completamente esquecida, a não ser pelos nightclubs e poucos planos
filmados em Buenos Aires, de seus encantos urbanos, Miranda canta aqui todas as
canções em português e ainda existe os tradicionais planos filmados em locações
da metrópole argentina, detalhe que foi considerado desnecessário ao filme
ambientado no Brasil. De fato é numa hacienda que vive Don Diego (emprestado
de Zorro), pai do herói. E se
o filme seguinte já foi produzido após uma chamada aos estúdios para se
tornarem mais cuidadosos quando forem abordar os países latinos, aqui já existe
uma fala da tia de Glenda que parece ser endereçada ao mesmo, afirmando se encontrar
“cansadas dessas boas relações com os vizinhos”. Os números musicais de Carmen, assim como seu
próprio personagem, não se encontram integrados ao enredo, como se a Fox
quisesse, a todo custo, ter querido tirar partido de última hora da súbita fama
dela. O prestígio da cantora brasileira se dá ao surgir como terceiro nome do
elenco, mesmo surgindo somente em seus números musicais, diante de muitos do
elenco que se encontram presentes por muito mais tempo em tela. Carmen Miranda,
que vive a si própria, canta duas músicas que são icônicas de sua carreira,
no Brasil (Mamãe eu
Quero) e em Broadway-Hollywood (South
American Way). O título brasileiro é um tanto inadequado
pois, a rigor, não ocorre nenhuma serenata no filme. Twentieth Century-Fox Film
Corp. 89 minutos.
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