Filme do Dia: Perseguindo o Lunático (1904), Edwin S.Porter
Perseguindo o Lunático (Maniac Chase, EUA, 1904). Direção: Edwin S. Porter.
Um maníaco encarcerado em um manicômio agride um dos
enfermeiros e após uma briga com esse e outros dois homens da instituição, foge
através da janela. Os três enfermeiros o perseguem por um bom tempo. Conseguem
alcança-lo algumas vezes, mas ele se desvencilha e surpreendentemente retorna a
sua cela.
Muitos dos elementos dos filmes do
período podem ser encontrados nessa produção em duas partes como o próprio
caráter do filme se enquadrar no gênero dos “filmes de perseguição” então emergente.
Como outras produções que enfatizam a maior parte do tempo a perseguição, esse
filme conta com a habitual estrutura na qual tanto perseguidores quanto
perseguidos são sempre observados no mesmo plano. Quando ocorre algum
distanciamento, como é o caso da vantajosa e inexplicável dianteira que o
maníaco consegue em relação aos seus perseguidores nunca se entremeia planos
destes últimos, o que caracterizaria a distinção que os filmes de Griffith
trariam, através do uso da montagem paralela, acentuando o efeito de suspense.
Essa estrutura de composição narrativa permaneceria ainda efetiva por anos
(quando se pensa, por exemplo, que La
Course des Sargents de Ville é de três anos após). Outro elemento comum aos
filmes do período é o evidente contraste entre o interior visivelmente
estilizado, em um cenário que possui como grade de cela do “maníaco” barras de
madeira que ele rompe com relativa facilidade e as externas filmadas em
locação. Quando se equipara tal filme a uma proposta semelhante de fuga e
perseguição de um personagem igualmente com problemas psíquicos em The House of Darkness (1913), de
Griffith, percebe-se não apenas a estrutura de montagem paralela acima referida
para suscitar um maior suspense, como uma motivação psicológica mais ampla
provocando um maior processo de identificação com a situação e os personagens –
no caso o “lunático” tornará a esposa do protagonista sua vítima. Deve-se ainda
notar que se o paciente do filme de Griffith
poderia ser considerado demasiado excessivo, em termos de representação
naturalista, na sua representação da perturbação mental que o acomete, para os
padrões de cem anos após, aqui a expressão de loucura do personagem se encontra
expressa menos em sua face e corpo – ele luta e gesticula do mesmo modo que
seus perseguidores – do que na emblemática roupa de Napoleão que traja.
Destaque para o belo, ainda que involuntário, efeito provocado pelo reverse motion na subida do maníaco e
dos enfermeiros a uma árvore, efeito que efetivamente não possuía outra
intenção que a de representar o pulo dos personagens em um galho que eles não
alcançavam se a cena fosse filmada sem trucagens, antecipando em sua
plasticidade muito dos efeitos estéticos produzidos posteriomente que fariam
uso de semelhante recurso, só que agora de modo consciente – das vanguardas dos
anos 1920, passando por Cocteau (Orfeu)
e chegando a um clipe como Strawberry
Fields Forever dos Beatles. Trata-se
de uma refilmagem de The Escaped Lunatic,
filme produzido pela Biograph no mesmo ano. Edison Manufacturing Co. 8 minutos.
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