Filme do Dia: The Forgotten Village (1941), Herbert Kline & Alexander Hammid


The Forgotten Village (EUA, 1941). Direção: Herbert Kline & Alexander Hammid. Rot. Original: John Steinbeck, a partir de um argumento seu. Fotografia: Alexander Hammid. Música: Hans Eisler.

Documentário encenado que desde as cartelas iniciais adverte para o fato de todos os que se encontram presentes no mesmo não são atores profissionais, algo desnecessário afirmar, soando a afirmação mais como uma aproximação do documental. Narrado do início ao final (pelo ator Burguess Meredith), o filme tropeça com a excessiva dependência do áudio de seu narrador, que inclusive se estende sem cerimônia na simulação dos diálogos de seus personagens, efeito nada incomum na época, mas demasiado paternalista. Embora o fato do filme ser encenado sugira sua filiação a gêneros ficcionais que utilizaram atores não profissionais como é o caso de filmes do Neo-Realismo italiano, em que não profissionais executavam ações que lhe eram próximas no cotidiano (tal como em A Terra Treme), existe aqui um elemento fortemente diferenciador que o aproxima do gênero documental, a narração over que vai organizando a sucessão de imagens e a ausência de uma decupagem nas imagens que tenda a incentivar o caráter dramático. Com relação sobretudo ao primeiro, o filme se vê destituído de um dos elementos mais fortemente associados ao campo ficcional, que é a presença de diálogos. A questão crucial trabalhada pelo filme, a da assistência médica inexistente no povoado onde transcorre a nativa e que é acometido por uma infecção na água que provoca a morte de várias crianças e que tende a ser tratado a base do curandeirismo, aqui não apresenta a saída conciliatória entre ciência e crença apresentada, por exemplo, em Maria Candelaria – uma das crianças da família que a narrativa acompanha simplesmente morre como consequência da recusa do tratamento médico, e muitas outras a seguirão. Involuntariamente os próprios médicos são apresentados de forma pouco sensível em seu embate direto com as crendices, como no momento em que o médico retira a pele de cobra que se acredita ter poder curativo da barriga da criança por parte de uma família que aceita o tratamento médico. Após sua saída, a mãe volta a por o mesmo na criança.  O próprio cinema é um dos meios utilizados para tentar conscientizar as pessoas, através de filmes educativos que apresentam tratamentos, mas igualmente recusado, tendo o professor – que luta sozinho contra a ignorância do povo – seu equipamento destruído. A sequencia em que o “membro esclarecido” da comunidade vai buscar apoio médico na Cidade do México apresenta a brutal contradição social entre um campo desassistido (e completamente destituído de representantes do Estado na área de saúde) e a modernidade urbana, com seus códigos já bastante distintos – contraposição ressaltada pelo costume tradicional, utilizado apenas pelo jovem (evocativo de uma sequencia de Corazon de Niño, realizado mais de vinte anos após). Como solução final, o filme pretende apontar para a educação como única forma de conscientização das novas gerações, entrevendo-se o que acontecerá no futuro, a partir do que fala o médico, num processo de mudança bem mais lento certamente que a sucessão de imagens de escolas técnicas e de equipamentos especializados que surgem nas imagens como por encanto poderiam sugerir. Hammid foi casado com a cineasta experimental Maya Deren, dedicando-se a temas diversos na esfera do documentário como é o caso de Crisis (1939), sobre a conquista da Tchecoslováquia pelos nazistas, mas igualmente participando de alguns projetos juntamente com Deren, como é o caso de The Private Life of a Cat(1944). Destaque para o momento em que se pretende reproduzir os sons das crianças na escola, numa única vez em que tal “ventriloquismo” não fica a cargo somente da única voz do narrador. Com roteiro de Steinbeck, autor de Vinhas da Ira, que havia sido adaptado para o cinema no ano anterior, o filme provavelmente não deve ter tido boa acolhida das autoridades mexicanas, caso lá tenha sido exibido. Pan-American Films Inc. para Arthur Mayer & Joseph Burstyn. 67 minutos.

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