Filme do Dia: Mulher de Verdade (1954), Alberto Cavalcanti
Mulher
de Verdade (Brasil, 1954). Direção: Alberto Cavalcanti. Rot. Original: Oswald
Molles & Miroel Silveira. Fotografia: Edgar Brasil. Música: Cláudio
Santoro. Montagem: José Cañizares. Dir. de arte: Francisco Balduíno. Com:
Inesita Barroso, Cole Santana, José Sanz, Raquel Martins, Adoniran Barbosa,
Carla Nell. Valdo Wanderley.
Bamba (Santana), conhecido malandro, é ferido em confronto
com a polícia enquanto fazia serenata em um bairro residencial. Tratado pela
cuidadosa enfermeira Amélia (Barroso), transforma-se em rapaz trabalhador,
entrando para o Corpo de Bombeiros e se casando com Amélia. Amélia, porém, cai
na armadilha do diretor do hospital, que afirma que um paciente o rico Lauro encontra-se
moribundo e pretende se casar com ela como último desejo. Casada
novamente, ela se divide entre dois maridos, afirmando que está trabalhando no
hospital. Seu difícil equilíbrio desmorona de vez quando em um incêndio, em seu
luxuoso apartamento em Copacabana, é salva pelo próprio marido, que não a reconhece
no momento. Numa festa oferecida pelo marido de Amélia, uma das surpresas é
justamente uma homenagem ao bombeiro que a salvou.
Uma das produções menos conhecidas e bem sucedidas de
Cavalcanti, que teve seu nome associado sobretudo a sua carreira européia, com
filmes de ficção (como o notável episódio para No Silêncio da Noite) e documentários (para a célebre Escola
Documental Britânica). Produção tosca e irregular, ainda assim possui alguns
momentos cômicos que funcionam. Mesmo possuindo seus paralelos com a chanchada
carioca, como uma busca de representação de elementos do povo, o resultado
final soa menos orgânico e verossímil. A seqüência inicial, assim como muitos
outros momentos, sofrem de uma empostação teatral na interpretação e
movimentação dos atores, assim como o próprio ritmo de determinadas seqüências
está longe de ser bem efetivado – notadamente a seqüência do incêndio.
Curiosamente, apresenta um perfil de mulher atípico da produção de então, sendo
não apenas independente como, mesmo tendo sido descoberto e tornado público o
caso de bigamia, disposta a ficar com os dois maridos (situação que o filme
tampouco antipatiza, sendo precursor de produções como Eu, Tu, Eles). Existe a habitual caricaturização das elites, que
tampouco era ausente na produção contemporânea da Atlântida. Kino Filmes. 88
minutos.
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