Filme do Dia: Juha (1999), Aki Kaurismäki
Juha
(Finlândia, 1999). Direção: Aki Kaurismäki. Rot. Adaptado: Aki Kaurismäki, a
partir do romance de Juhani Aho. Fotografia: Timo Salminen. Música: Anssi
Tikanmäki. Montagem: Aki Kaurismäki. Dir. de arte: Markku Pätilä. Com: Kati
Outinen, Sakari Kuosmanen, André Wilms, Markku Peltola, Elina Salo, Ona Kamu,
Outi Mäenpäa, Tuire Tuomisto.
Juha (Kuosmanen) e Maha (Outinen) vivem uma vida tranquila e
cheia de amor até a chegada de um homem da cidade, Shemeikka (Wilms), que seduz
Maha com propostas de uma vida menos pacata e sem supresas sem que o ingênuo
Juha se dê conta. Numa segunda visita ao casal, Shemeikka consegue levar Maha
consigo. Essa deixa um bilhete ao marido. Maha é levada para um prostíbulo,
onde se torna praticamente prisioneira de seu cafetão sem, no entanto,
dobrar-se ao desejo desse que se prostitua. Conseguindo fugir, desmaia grávida
na estação ferroviária e é recapturada pelos homens de Shemeikka. Conhecedor de
seu paradeiro, Juha enfrenta o grupo, é baleado por Shemeikka, mas consegue
matar esse e libertar Maha, morrendo em seguida.
Obra menor do realizador que curiosamente adapta um romance
melodramático de viés vitoriano (e já levado às telas três vezes, notadamente
por Mauritz Stiller, em 1921) para o seu conhecido modelo, onde impera o
distanciamento emocional do que é narrado. A mescla, não particularmente
produtiva, torna-se ainda mais agravada pelo recurso a sua emulação do cinema
silencioso, com a presença somente de música - recurso habitualmente ausente
dos filmes do realizador - e dos entretítulos, à exceção de um número musical.
De fato, a tentativa de emulação de um momento do passado do cinema, via de
regra, tem demonstrado ser uma solução desastrosa em maior ou menor medida, em
suas mais variadas tentativas (A Última
Loucura de Mel Brooks, A Festa de Margarette ou O Artista). Aqui,
talvez ainda mais que em O Artista,
pague-se o risco não somente de se evocar um estilo impossível de ser
reproduzido substancialmente a contento, ainda que de forma tributária ou
paródica – e talvez um dos maiores fracassos do filme se encontre em nem
conseguir ser dramático nem tampouco efetivamente cômico ou espirituoso como
nos filmes mais bem sucedidos do realizador, a exemplo de O Porto – como de se lidar com material produzido em outro momento
e cuja transposição para o momento contemporâneo à produção do filme também
traz seus problemas, mesmo descontada à consciente ironia. De fato, a história
parece transcorrer em um certo vácuo temporal, no qual o casal “intocado” pelos
males da modernidade, que não sejam os objetos como o micro-ondas em que Maha
prepara as refeições de seu amado recebe a inesperada visita do faustiano
Shemeikka. Por mais fabular e anti-realista que seja a proposta, torna-se esmaecida
quando se imagina a improbabilidade de tal situação na Europa pós-moderna
contemporânea; algo que um filme como O Porto consegue driblar de forma bem mais efetiva, sem abrir mão de sua
verve fabular. Destaque para a utilização inicial excessiva da mímica, logo
abandonada em prol dos movimentos labiais. Sputnik para Euro Space. 78 minutos.
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