Filme do Dia: Motorista Sem Limites (1970), Milton Barragan
Motorista Sem Limites (Brasil, 1970).
Direção: Milton Barragan. Rot. Original: Milton Barragan &
Clóvis Mezzono. Fotografia:
Antônio Gonçalves. Música: Remo Usai. Dir. de arte: Luis C. Cena. Com:
Teixeirinha, Walter D’Ávila, Jimmy Pipiolo, Mary Terezinha, Jasson Matel, Rejane Schumann, Ivan Trilha, Liorrey Gomes.
A dupla de caminhoneiros Jorge
(Teixeirinha) e Bocão (Gomes), que servem a família de Angelita (Terezinha), fica
sabendo que a família se encontra refém de dois bandidos (Trilha e Natel) que
acabaram de cometer um grande assalto a banco. Um detetive especializado em
disfarces, Leão (D’Avila) se encontra no encalço dos ladrões. Quando chega à
residência, travestido como padre, torna-se mais um dos reféns, enquanto os
bandidos fogem com Angelita. Após uma série de perseguições, os bandidos são
capturados e Jorge e Angelita se tornam um casal.
Difícil expressar o quão medonhamente canhestra é essa farsa, primeiro
de uma série de 11 filmes a serem interpretados pelo cantor sertanejo
Teixeirinha, cujo cacife está ancorado no enorme sucesso de um compacto que
vendeu 25 milhões de cópias e dirigidos invariavelmente por Barragan ou Pereira
Dias. Do bisonho timing e as
interpretações primárias à inserção de números musicais com letras marcadas
pelo populismo ufano atinado com os tempos áureos da ditadura (temas
semelhantes também seriam utilizados, ainda que de forma irônica, em Iracema - Uma Transa Amazônica), tudo
parece algo manco e demasiado improvisado nessa produção precária. Como de
praxe em produções de tal perfil popular, não falta o habitual sexismo,
desfilado nas letras das canções que apresentam o cotidiano dos caminhoneiros,
nos quais a mulher é evidente objeto – mulher feia e urubu são tratados a pedra
segundo o para-choque de um dos caminhões, enquanto o do caminhão do
protagonista afirma que só oferece carona se a dona estiver munida de pílulas
anticoncepcionais e os homossexuais são visitas interditadas a boléia dos
caminhões. Com relação a ambos, curiosamente, Jorge não apenas não oferece
carona a nenhuma mulher ou apresenta qualquer situação de flerte, mesmo com
Angelita, antes de consagrar de fato sua relação e ainda ter como companhia
fiel alguém do próprio sexo, a versão estropiada e pretensamente cômica, seu
Pancho, na figura do irritantemente caricato Bocão. Algo que simetricamente é
disposto igualmente no núcleo vilanesco, que também possui seu bobo da corte.
Interfilmes do Brasil. 100 minutos.
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