Filme do Dia: Um Gosto de Mel (1961), Tony Richardson
Um Gosto de Mel (A Taste of Honey, Reino Unido, 1961).
Direção: Tony Richardson. Rot. Adaptado: Shelagh Delaney & Tony Richardson,
baseado em peça de Delaney. Fotografia: Walter Lassaly. Música: John Addison.
Montagem: Antony Gibbs. Dir. de arte: Ralph W. Brinton. Figurinos: Sophie
Devine, Barbara Gillett & Sophie Harris. Com: Rita Tushingam, Dora Bryan,
Murray Melvin, Paul Danquah, Margo Cunningham.
Jo (Tushingam) é uma jovem
vivenciando os percalços de sua iniciação na vida adulta, com uma mãe
displicente, Helen (Brian), dificuldades financeiras e problemas de adaptação
na escola. Sua válvula de escape passa a ser o jovem marinheiro negro Jimmy
(Danquah), atencioso e romântico. Porém, a situação piora quando a mãe resolve
unir-se a um de seus amantes ocasionais, Peter (Stephens) e Jimmy parte sem
deixar notícias, enquanto Jo se descobre grávida. Ela passa a dividir uma nova
casa com um cliente da loja de sapatos em que trabalha, Geoffrey (Melvin),
homossexual e disposto a cuidar da criança e protege-la. Peter arranja outra
mulher, Jo retorna e Geoffrey resolve partir da casa.
Esse pungente retrato agridoce do
cruel processo de iniciação na vida adulta de uma jovem proletária inglesa
possui em sua estrutura tudo o que de melhor irá nortear os cineastas que herdarão essa preocupação em
situar seus dramas nas classes economicamente menos favorecidas: Mike Leigh e
Ken Loach. Suavizando a influência teatral de Odeio Essa Mulher, com uma
maior preocupação visual, muito provavelmente influenciada pela produção
contemporânea da Nouvelle Vague, o filme busca afastar-se do
sentimentalismo fácil e apóia-se grandemente no brilho dos diálogos e da
direção de atores, com destaque para
Tushingam e Melvin. Seu tom, que busca o poético em situações limites de
sofrimento emocional e exclusão social, certamente influenciará um retrato
semelhante e igualmente tocante do início da carreira de Ken Loach, Kes.
Evitando argutamente os estereótipos, apresenta Jimmy, por exemplo, como um
rapaz comum e não um mau caráter que apenas buscava aproveitar-se de Jo, o que
apenas acentua o tom de perda que é vivenciado pela última, quando percebe que
não mais contará com seu apoio. Também será ousado na sua exposição da
sexualidade, desde a promiscuidade da mãe até a apresentação de um personagem
homossexual sem o habitual tom hilário com que eram representados até então.
Aliás a relação entre Jo e Geoffrey, ambos vivenciando, cada um a seu modo, o
sentimento de inadaptação social, é um dos maiores atrativos do filme. Woodfall
Film Productions. 100 minutos.
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