The Film Handbook#34: F.W. Murnau
Max Schereck como o conde-vampiro cadavérico no clássico Nosferatu de Murnau |
F.W.Murnau
Nascimento: 28/12/1888, Bielefeld, Alemanha, Alemanha
Morte: 11/03/1931, Santa Barbara, Califórnia, EUA
Carreira (como realizador): 1919-31
Dos 21 filmes realizados por Friedrich Wilhelm Murnau (nascido Plumpe) quase a metade se encontram hoje perdidos, enquanto os diversos que sobrevivem se encontram incompletos, mutilados ou raramente vistos. Na evidência, entretanto, de um punhado de filmes, sua trágica morte precoce roubou o mundo de um talento poético maior.
Educado em história da arte e literatura, Murnau ganhou primeiro experiência no teatro sob os auspícios de Max Reinhardt. Após a I Guerra Mundial, durante a qual editou propaganda, voltou-se para a direção com Der Knabe in Blau. Os anos seguintes foram prolíficos, mas o mais antigo filme digno de nota é Nosferatu>1, um filme de vampiro baseado no clássico Drácula de Bram Stoker e notável, não somente por sua verdadeiramente concepção sub-humana e cadavérica do conde, como por sua engenhosa mescla de fantasia e realidade, a última evocada através de soberbas locações fotográficas. De fato, a maior força de Murnau foi seu estilo visual eclético, que combinava tendências expressionistas do cinema alemão contemporâneo com um naturalismo mais tranquilo e lírico, familiar de filmes suecos e americanos. A Última Gargalhada/Der Letzte Mann>2, por exemplo, permanece impressionante menos por seu enredo teutônico (sobre um porteiro de hotel que, rebaixado a faxineiro do banheiro, entra em tal estado depressivo que é tentado a reaver seu amado uniforme) que por sua câmera constantemente em movimento. Ainda que a atuação exagerada de Emil Jannings, e um final feliz acrescentado pelos estúdios UFA contra os desejos de Murnau, sirvam somente para acentuar o anti-clímax sombrio da fábula, os arrebatamentos, deambulações e movimentos da câmera sugerem um mundo vibrante existindo para além do universo enquadrado; De fato, o visual fluido de Murnau era tão expressivo que ele abandonou o artifício habitual dos entretítulos para desenvolver a história.
Tartufo/Her Tartüff, uma versão elegante da comédia de Molière e Fausto/Faust ambos apresentavam o senso pictórico de composição de Murnau, ainda que as cenas de surpreendente beleza sobrenatural do último (incluindo uma viagem aérea) tenham sido prejudicados pela pobreza da farsa de um tedioso núcleo central. Em 1926, no entanto, Murnau foi convidado por William Fox para Hollywood, aonde realizou talvez sua obra-prima, Aurora/Sunrise>3. Novamente a história em si mesma não é notável: o caso com uma vamp citadina leva um inocente rapaz do campo a planejar a morte de sua esposa, mas uma mudança provoca o renascimento do amor entre eles. Mais uma vez, no entanto, a câmera detalha tanto a pureza simples da vida rural quanto a movimentada noite das luzes de néon urbanas, proporcionando o poder emocional do filme, suas texturas poeticamente irreais em chiaroescuro e sua identificação com os personagens principais, suspendendo toda a descrença no romance potencialmente risível. O filme, infelizmente, foi mal de público apesar da aclamação crítica e tanto Os Quatro Diabos/Four Devils (hoje perdido) quanto O Pão Nosso de Cada Dia/Our Daily Bread sofreram interferências do estúdio, o último - um ainda esporadicamente comovente e visualmente exuberante narrativa da jovem esposa de um fazendeiro rejeitada por seu sogro - sendo parcialmente refilmado e reintitulado City Girl.
Em 1929, Murnau viajou aos Mares do Sul com Flaherty para realizar o que seria seu último filme. Apesar de sonoro, Tabu>4, não é falado nem documentário, mas um cinepoema ficcional que se utiliza de reais polinésios, em locações, para contar uma história (de amor juvenil e morte, uma tradicional maldição tribal) através de músicas e imagens de evidente homo-erotismo (fazendo suscitar discordâncias quanto a própria sexualidade do diretor). Flaherty abandonou a produção após divergências de opinião; felizmente, no entanto, a concepção simples e onírica de Murnau de uma cruel ilha paradisíaca na iminência da extinção foi tanto uma obra-prima única e lírica por si mesma quanto um triste, mas glorioso, epitáfio. Em 1931, com um contrato com a Paramount (um estúdio incomumente simpático com os diretores europeus "artísticos") agora em mira, ele foi morto em um acidente de carro.
O estilo visual de Murnau que une temas e histórias diversas é o que constitui o melhor de sua obra; seu fluente movimento de câmera implica uma atitude de abertura que transcende tanto os rígidos esquematismos do Expressionismo quanto as convenções limitadoras dos gêneros. Seus filmes são difíceis de categorizar (Nosferatu é demasiado lírico para ser observado apenas como horror, enquanto muitas de suas outras obras sugerem um interesse metafísico que vai além da simples narrativa), mas retém uma habilidade de tocar ao coração e estimular tanto a mente quanto os olhos.
Cronologia
A mescla de detalhe realista e poética emocional de Murnau, para não mencionar seu gosto por elaborados movimentos de câmera enquanto oposição as práticas de montagem desenvolvidas por Eisenstein, podem sugerir comparações com von Stroheim, von Sternberg, Renoir, Mizoguchi, Ophüls e mesmo talvez Welles, Minnelli e Altman. Curiosamente, apesar de Herzog ter prestado seu tributo refilmando Nosferatu, dentre os modernos diretores alemães são os métodos visuais de Wenders que mais se assemelham aos de Murnau.
Leituras Futuras
The Haunted Screen (Londres, 1969), [no Brasil A Tela Demoníaca (Rio de Janeiro, 1985) e Murnau (Londres, 1973), ambos de Lotte H. Eisner.
Destaques
1. Nosferatu (Uma Sinfonia de Horror), Alemanha, 1922 c/Max Scherek, Alexander Granach, Greta Schroeder
2. A Última Gargalhada (O Último Homem), Alemanha, 1924 c/Emil Jannings, Maly Delschaft, Max Hiller
3.Aurora, EUA, 1927 c/Janet Gaynor, George O'Brien, Margaret Livingstone
4. Tabu, EUA, 1931 c/Reri, Matahi, Hitu, Jean, Jules, Kong Ah
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 201-3.
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