Filme do Dia: Armadilha do Diabo (1962), Frantisek Vlácil


Armadilha do Diabo (Dablova Pást, Tchecoslováquia, 1962). Direção: Frantisek Vlácil. Rot. Adaptado: Frantisek A. Dvorák, Milos Václav Kratochvíl & Alfred Technik. Fotografia: Rudolf Milik. Música: Zdenek Lisk. Montagem: Miroslav Hájek. Figurinos: Theodor PIstek. Com: Vít Olmer, Víteszlav Vejrazka, Karla Chadimová, Miroslav Macháchek, Cestmír Randa, Vlastimil Hasek, Josef Hlinomaz,  Bedrich Karen, Ladislav Kazda, Dagmar Kofronová, Frantisek Kovárik.
Século XVI. Um moleiro (Vejrazka) e seu filho Jan (Olmer), passam a ser observados com suspeição por conta de terem, a partir dos rudimentos do primeiro, encontrado um filão de água que se torna cobiçado pela comunidade. Rumores de bruxaria são disseminados pelo regente (Randa) local e um padre (Macháchek).
Marcado por um preciosismo estilístico que se faz presente em sua cuidadosamente atmosférica trilha sonora, por vezes algo excessiva, que se conjuga a um certo estranhamento com que tudo é narrado, como se não deixasse muitas pistas ao espectador, espremido entre o que parece ser a boa fé e os interesses particulares do moleiro por um lado e as suspeitas que recaem, em parte endossadas por uma história tradicional que menciona uma tragédia ocorrida no moinho, incendiado no passado. O virtuosismo da imagem se faz presente em igual medida ao uso enfático da música, através dos ângulos inusitados que cobrem desde as flores jogadas no fundo abismo por Jan, a partir da perspectiva do abismo ou da câmera elevada que apresenta os casais dançando numa festa ou que avançam, como que voando, em direção a porta da casa do moleiro – efeito deveras impressionante quando se pensa que efetivado com grua e não efeitos digitais. A tentativa de representação de planos subjetivos de diversos personagens também fazem parte desse esmero visual, característica gradativamente utilizada com menor ênfase. Destaque para a intensa cena do moinho incendiado, a boa qualidade das interpretações, a maravilhosa fotografia em p&b e a composição do que é enquadrado, já demonstrado a partir dos belos planos iniciais que destacam a miudeza do padre diante da imensidão da paisagem ou a imagem transfigurada de Cristo – sua batina preta e seu tom arrogante sugerem, já a princípio, uma aproximação com o demônio antes por ele que por parte dos rudes trabalhadores.  A vinculação da instituição eclesiástica com os interesses do poder se faz presente, ainda que de forma relativamente dissimulada e lacônica. Mesmo que na superfície sua narrativa possa ser costurada a partir de tais comentários, eles se encontram longe de esclarecer o tom premonitório e sobrenatural que o acompanha do início ao final (o que aconteceu, de fato, com o moleiro, por exemplo?). Sua imagem carregadamente expressionista e simbólica parece influenciada pelo cinema de Bergman. Filmové Studio Barrandov para Ceskolovenský Filmexport. 85 minutos.

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