Filme do Dia: Antes da Chuva (1994), Milcho Manchevski

Antes da Chuva (Before the Rain, Macedônia/Reino Unido/França, 1994). Direção e Rot. Original: Milcho Manchevski. Fotografia: Manuel Teran. Música: Zlatko Origjanski, Zoran Spasovski & Goran Trajkoski. Montagem: Nicolas Gaster. Dir. de arte: Sharon Lomofsky & David Munns. Figurinos: Caroline Harris & Sue Yelland. Com: Rade Serbedzija, Katrin Cartlidge, Grégoire Colin, Labina Mitevska, Jay Villiers, Silvija Stojanovska, Phyllida Law, Josif Josifovski.
           Jovem semininarista da Igreja Ortodoxa macedônia  abriga Kiril (Colin), sem que os próprios padres saibam, uma jovem albanesa refugiada por suspeita de ter assassinado um homem macedônio. Como fez voto de silêncio há dois anos, nada responde quando uma milícia vasculha o local. Os padres descobrem a garota e Kiril parte com ela. Descobertos no meio do caminho, a garota é morta quando decide abandonar os próprios albaneses e fugir com Kiril. Um fotográfo macedônio, Aleksander (Serbedzija), decide abandonar o emprego e voltar para seu país, terminando igualmente sua relação turbulenta com sua colega de trabalho, Anne (Cartlidge). Anna se encontra com o marido Nick (Villiers) em um restaurante e, mesmo grávida dele, decide pedir o divórcio. Um homem fora de si atira contra todos no restaurante e mata Nick. Aleksander reencontra com pesar sua terra em que as animosidades crescentes entre albaneses e macedônios inviabilizam, inclusive, o seu retorno para um mítico amor passado com a ex-colega de escola Hana (Stojanovska). Pressionado tanto por Anne como por Hana a tomar uma posição, decide escutar os apelos de Hana e ir libertar sua filha das mãos da milícia macedônia, comandada por seu próprio primo. É morto pelo primo, enquanto a garota foge para refugiar-se no seminário da Igreja Ortodoxa.
A fala inicial e final do padre sobre “o tempo que não espera por o círculo não ser redondo” bem poderia valer para a própria estrutura desse filme, que embora circular, não chega a se fechar por completo. Assim, somente após o último dos três atos, Rostos, temos uma medida exata da narrativa, que deixa explícita algumas de suas incongruências – como o protagonista pode ter fotografado a execução da garota albanesa se já se encontrava morto? Menos preocupado em contextualizar os motivos que levaram aos ódios raciais que demonstrar como a violência gera uma cadeia interminável de ódio e morte, o filme deixa igualmente de se aprofundar nas motivações mais específicas dos personagens, para perceber nas escolhas afetivas pessoais uma busca incessante e inconsciente por sentimentos e pessoas semelhantes (a provinciana e submissa Hana não sera a outra face da sofisticada e independente Anne, igualmente cobrando do protagonista uma postura semelhante em relação ao conflito?). Ausente da dramaturgia de Manchevski, emoldurada em belas locações fotogradas soberbamente, encontra-se o humor negro e a auto-paródia característica das produções de cineastas sérvio-croatas como Kustorica e Dragojevic. Menos que uma tentativa de reproduzir os conflitos pelos olhos de quem está completamente imerso neles, o filme procura ser um reflexo de alguém, provavelmente o próprio cineasta,  que já obteve um certo distanciamento dos mesmos, a partir do momento que abandonou a realidade local por muito tempo. Leão de Ouro no Festival de Veneza.  Aim/ British Screen/European co-Production Fund/Ministry of Culture for the Republic of Macedonia/Noe/PolyGram Audiovisual/Vardar Film. 113 minutos.


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