Filme do Dia: Os Vermelhos e os Brancos (1967), Miklós Jancsó
Os
Vermelhos e os Brancos (Csillagosok,
Katonák, Hungria/URSS, 1967). Direção: Miklós Jancsó. Rot. Original: Gyula
Hernádi, Miklós Jancsó, Luca Karall, Valeri Karen & Giorgi Mdvani. Fotografia:
Tamás Somló. Montagem: Zoltán Farkas. Dir. de arte: Anatoli Burdo, Boris
Chebotaryov & Ferenc Kopp. Figurinos: Maya Abar-Baranovskaya & Gyula
Várdai. Com: József Madaras, Tibor Molnár, András Kozák, Jácint Juhász, Anatoli
Yabbarov, Sergei Nikonenko, Mikhail Kozakov, Krystyna Mikolajewska.
1919. Húngaros se unem as forças vermelhas no combate aos
brancos na guerra civil que aflige a União Soviética e acaba provocando uma
série de massacres em um monastério e em um hospital próximos ao Volga.
Através de um verdadeiro balé de planos-seqüência com
virtuosos movimentos de câmera, Jancsó abdica de muitas das convenções do
cinema ortodoxo em sua visão épica, sanguinária e anárquica do conflito como
trilha sonora, diálogos, no sentido dramático convencional do termo ou
definição acurada de personagens principais ou secundários, assim como,
consequentemente, de uma trama mais
convencional. O que parece dominar a tudo e a todos é a instabilidade e a
anarquia, como na seqüência em que um oficial branco, após ter executado um
húngaro, é morto por homens de seu próprio regimento, quando se preparava para
estuprar uma camponesa. Instabilidade essa que é flagrada com apuro por seus
intermináveis e belos planos, em que a câmera se movimenta por diversas ações
simultâneas com maestria épica, por vezes evocativa das batalhas entre samurais
dos filmes de Kurosawa ou dos faroestes de Ford como Rastros de Ódio. Em meio a tanta desordem, pode-se até considerar
uma simpatia por demais tendenciosa para com os vermelhos, como na seqüência em
que se dispõem de modo idealista e suicida um exército várias vezes mais
numeroso e articulado que eles próprios, porém tampouco esses deixam de serem
entrevistos em situações de extrema brutalidade. Completamente despido de sentimentalismo,
o filme várias vezes aponta para um potencial personagem em que a projeção de identificação do espectador
parece garantir alguma segurança que logo se demonstrará completamente inócua
diante da bestialidade ilógica do conflito. Porém tal bestialidade não se
confina a uma crítica humanista abstrata como comum no cinema, sendo bastante
demarcada desde o início até o final, por mais que cada liderança ou grupo de
soldados possam tomar igualmente suas decisões arbitrárias. Mafilm/Mosfilm.
90 minutos.
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