Filme do Dia: The Adventure of Iron Pussy (2003), Apichatpong Weerasethakul
The Adventure of Iron Pussy (Hua Jai Tor ra Nong, Tailândia, 2003). Direção e Rot. Original: Apichatpong Weerasethakul&
Michael Shawaonasai. Fotografia: Surachet Tongmee. Figurinos: Prae Prakmis.
Com: Michael Shawaonasai, Siriyakom Pukkavesh, Krissada Terrence, Theerawat
Thongjitti.
Quando se traveste literalmente de Iron Pussy (Shawaonasai),
travesti consegue derrotar vários homens juntos. Junte-se a isso a atração que
exerce nos homens e Iron é designada como agente para enfrentar a corrupção que
envolve a família da multimilionária Pompadoy e seu filho Tang (Terrence), que
se apaixona por uma das criadas que ninguém é menos do que a própria
Iron Pussy e, para sua decepção, sua irmã gêmea.
É curioso, senão mesmo instigante, saber que apenas um ano
antes de sua descoberta internacional com o premiado Mal dos Trópicos, que o colocaria no mapa do cinema de arte
contemporâneo, Weerasethakul tenha dirigido essa comédia, em tudo distinta praticamente
do sucesso do filme seguinte, que reorientaria certamente a carreira do
realizador. Aqui se trata de uma comédia que consegue capitalizar em cima de
sua própria precariedade. A origem humilde da heroína e seu travestismo, dupla exclusão do universo
estabelecido (e, claro, corrompido) da alta sociedade tailandesa se unem a sua
divertida sátira canibalizadora, a seu modo, tão vasta quanto a de Sganzerla:
do evidente mau gosto da estética kitsch ao musical, do filme de ação ao
melodrama clássico (não falta sequer a medalha que identifica, não se sabe
como, Iron Pussy a Pompadoy), de Madame Pompadour aos seriados televisivos. Ou
talvez fosse mais próxima a referência a Almodóvar, já que a sátira possui
pretensões mais modestas e condizentes com seu tempo do que as presentes em um
filme como O Bandido da Luz Vermelha
(1968). O escracho é delirante mais inteligente, como se pode perceber no modo
com o qual ironiza com o deslocamento do momento musical habitualmente dentro
do enredo de um filme, sobretudo quando os recém-descobertos irmãos
se encontram em vias de despencar fatalmente de um despenhadeiro e Tang começa
a cantar, como se nada acontecesse. O estilo visual, assumidamente precário,
tal como nos primeiros filmes de Almodóvar é uma atração por si só, assim como
os rompantes de romantismo delirantemente kitsch, que não faltam referências a Noviça Rebelde (1964). No filme
seguinte, a única evocação, despida do kitsch, é a do casal homossexual trafegando em uma
moto. Inusitadamente seu co-roteirista e
realizador é quem vive com bravura o papel de sua protagonista. Kick the
Machine para Alanys Films. 90 minutos.
Comentários
Postar um comentário