Filme do Dia: Comícios de Amor (1965), Pier Paolo Pasolini


Comícios de Amor (Comizi d´Amore, Itália, 1965). Direção e Rot. Original: Pier Paolo Pasolini. Fotografia: Mario Bernardo & Tonino Delli Colli. Montagem: Nino Baragli.

Documentário que resultou das filmagens empreendidas em uma viagem efetuada por toda Itália pelo realizador dois anos antes. Ninguém escapa à câmera inquisidora no estilo cinema-verdade de Pasolini. De crianças a velhos, camponeses a operários, intelectuais a adolescentes, homens e mulheres, todos são instados a falar algo sobre temas relacionados a questão do sexo, ao papel da mulher na sociedade, divórcio e homossexualidade, concepção ou da proibição dos bordéis e a nova forma de prostituição através da deambulação pelas ruas. Aparentemente inspirado pelo modelo de Crônica de um Verão (1960), de Rouch, Pasolini parte de perguntas quase tão evasivas quanto as do prólogo daquele para empreender sua jornada um tanto repetitiva mas, ao contrário de Rouch ou do contemporâneo filme de Jabor sobre a classe média brasileira (Opinião Pública), sem conseguir avançar pouco mais do que a profundidade das respostas de qualquer entrevista para a televisão. A certo momento uma de suas entrevistadas parece tocar no cerne da questão, ao afirmar que ele teria que gastar muito filme até que conseguisse que ela expressasse algo digno de nota para um interlocutor desconhecido e a partir de um tema por si só tradicionalmente melindroso, para não dizer quase tabu então em algumas regiões do país. Nem por isso a reação espontânea e instantânea de alguns de seus entrevistados deixa de ser bastante curiosa. Pasolini  não apenas questiona como se contrapõe por vezes diretamente ao que seus depoentes falam, algo que não chega a ser tão explicitado no filme de Jabor, que prefere fazer uso de estratégias estilísticas e de manipulação do material para conformar sua posição dos entrevistados. Ambas são posturas que se afastam do documentário de propósitos equivalentes realizado quatro décadas ou mais após, na qual a figura do enunciador se mostrará menos confiante de suas certezas. Um elo reflexivo entre as imagens filmadas em trânsito pelo país e o espectador vem a ser pensado através do discurso legitimado de uma dupla de intelectuais (sendo um deles Alberto Moravia, um dos amigos mais próximos de Pasolini). Arco Film para Titanus. 90 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng