Filme do Dia: À Procura de Mr. Goodbar (1977), Richard Brooks
À Procura de Mr.Goodbar (Looking
for Mr. Goodbar, EUA, 1977). Direção: Richard Brooks. Rot.
Adaptado: Richard Brooks, baseado no
romance de Judith Rossner. Fotografia:
William A. Fraker. Música: Artie Kane. Montagem: George Grenville. Figurinos:
Jodie Lynn Tillen. Com: Diane
Keaton, Tuesday Weld, William Atherton,
Richard Kiley, Richard Gere, Alan Feinstein, Tom Berenger, Priscilla Pointe, Laurie Prange, Julius Harris, LeVar Burton, Marilyn Coleman.
Theresa Dunn (Keaton), é uma jovem
estudante que vive uma conservadora família católica. Perde a virgindade e tem
um relacionamento problemático com seu professsor, abertamente misógino e
casado. Um dia parte e diz que tudo estava acabado entre eles. Theresa
passa a ensinar numa escola de
surdos-mudos, ao mesmo tempo que sai de casa, após uma discussão com o pai
(Kiley), indignado por ter passado a noite fora. Muito próxima de sua irmã
Katherine (Weld), de forte instabilidade emocional e vida sexual hiper-ativa,
passa uns dias com ela, até alugar seu próprio apartamento. No colégio aproxima-se
da garota negra Amy Jackson, a única que não possui dinheiro para comprar um
aparelho para o ouvido. Theresa se envolve com seu caso, e faz com que o rapaz
do serviço social, James (Atherton), interceda em favor de Amy. Ao mesmo tempo,
passa a viver uma agitada vida noturna. Conhece o desequilibrado Tony Lopanto
(Gere), que, no entanto, demonstra ser bom de cama, apesar de assustá-la com um
canivete e tendo que aguentar a corte do bom-moço James, que desde o caso de Amy procura se
aproxima dela e da família, embora nunca a aborde sexualmente. Lopanto
desaparece, e Theresa passa a viver uma série de aventuras com homens que caça
na noite.Em uma das noites reencontra o
professor que lhe iniciara, e esnoba- o.
No ínterim, sente-se tocada por uma história que James conta sobre seus
pais, embora a tentativa posterior de sexo entre ambos acabe com as gargalhadas
de Theresa quando percebe que ele está usando um preservativo. Quando se encontra se preparando para ir à
cama com um homem de meia-idade que encontra em uma discoteca gay, Lopanto
retorna e expulsa o homem. Katherine chega, no mesmo momento, e presencia a
agressão física que Theresa sofre de Lopanto. Theresa em uma discussão com o
pai, que a acusa de uma liberdade irresponsável e de não querer ter filhos, o
acusa, por sua vez, de responsabilidade por essa decisão, já que a doença de
que foi vítima na infância e que provoca escoliose é genética. Em uma noite do
ano-novo, Theresa vai a uma discoteca, onde se envolve com um homossexual
(Berenger) que se desligara a pouco de seu parceiro e que procura afirmar sua
masculinidade. Quando esse não consegue se excitar e Theresa ironiza um pouco
com a situação, este perde o controle e a agride, estuprando-a e posteriormente
assassinando-a.
Ainda que irregular, o filme é um forte
registro do que ocorre na sociedade americana no final dos anos 70. Mesclando
repressão religiosa de uma típica família católica com sua contrapartida, uma
procura insaciável de prazer nas drogas, no sexo e individualismo, consegue, em
seus melhores momentos, ser pungente na descrição da solidão e procura de um
novo e pessoal estilo de vida na figura de Theresa, auxiliado pela melancólica
trilha-sonora. Ou ainda hilário, quando apresenta fantasias sobre amor, morte e
repressão, de um modo operístico e
grandemente irônico em relação ao Sonho Americano, representando os pensamentos
da protagonista, em um estilo que lembra
Love Streams (1983), de
Cassavetes. Em seus piores momentos, não consegue ir além de um melodrama de
mau gosto, como no momento em que o pai de Theresa relembra a irmã que
suicidou-se por ser inválida. Ou quando a irmã de Theresa chora sobre um dos
múltiplos relacionamentos findos. Em
grande parte as virtudes do filme podem ser associadas com a interpretação de
Keaton, talvez a melhor de sua carreira, que além de nunca soar artificial em
sua espontaneidade, consegue representar com uma sinceridade quase
constrangedora, principalmente sob o ponto de vista do repressivo politicamente
correto dos dias atuais, muitos dos desejos e frustrações femininas. Já o mesmo
não se pode dizer de Weld, que interpreta sua desequilibrada personagem em um
registro marcadamente teatral, representando, de certa forma, o que há de pior
no filme. A narrativa se inicia nas vésperas do ano-novo de 1976 e se encerra
no ano-novo seguinte e, mesmo ousado, o filme não deixa de lado o caráter
punitivo que acaba assumindo essa nova postura feminina, com o assassinato de
Theresa ocorrendo sobre as mesmas luzes estroboscópicas em que viveu seus dias
de prazer na noite e que culminam com os belos planos finais do rosto dela, como uma máscara mortuária, cada vez mais distante. Brooks, um
especialista em vasculhar muitas das hipocrisias da sociedade americana, já
havia efetuado algo do gênero, também em relação à sexualidade, com Gata em Teto de Zinco Quente (1958),
uma das melhores adaptações de Tennessee Williams para o cinema e o romance The Brick Foxhole. Melhor utilização de
canções clássicas de discoteca já vista no cinema, extraindo da
superficialidade potencial das mesmas, que no cinema sempre foram associadas
com deboche ou diversão, o outro lado da mesma moeda: solidão e vazio
existencial. Paramount. 130 minutos.
Excelente comentário e crítica que retratam de forma soberba a história e o enredo densos do filme e a excelente e assombrosa interpretação da jovem Keaton na época. Vi este filme em agosto de 1978, no art copacabana, em Copa, e acabara de chegar de Porto Alegre, minha cidade natal. Meses antes tinha assistido em Porto Alegre - o trabalho de Diane Keaton em Annie Hall. E, sim, muito me impressionou o tremendo talento desta atriz. O filme é um retrato dos anos 70. E acho que a construção deste mundo terrível que vivemos hoje em dia, começou a ser construído naquela época. Nos loucos anos 70.
ResponderExcluirsou apaixonado por este filme. me marcou muito. não tinha idade para vê-lo na época, nem tomei conhecimento da existência dele quando de seu lançamento. vi-o seguidas vezes depois, na tv, vhs e depois consegui baixar...muito bom seu comentário e testemunho
ResponderExcluirna verdade, embora goste bastante do filme, acho que sou mais apaixonado por Diane Keaton e a forma como ela vivencia sua personagem que pelo filme como um todo
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