Filme do Dia: Assim Era a Atlântida (1974), Carlos Manga
Assim
Era a Atlântida (Brasil, 1974). Direção: Carlos Manga. Rot. Original: Carlos
Manga & Sílvio de Abreu. Fotografia: Antônio Gonçalves. Música: Lírio
Panicalli & Leo Perachi. Montagem: Waldemar Noya.
Intercalando cenas de 17 filmes realizados pelos Estúdios
Atlântida entre 1942 e 1962 com depoimentos contemporâneos de alguns de seus
maiores astros (Grande Othelo, Fada Santoro, Anselmo Duarte, Norma Bengell,
José Lewgoy, Eliane Macedo, etc.), o filme se institui no gênero do
documentário de compilação sobre uma determinada produção cinematográfica. Por
volta da mesma época na qual a MGM havia lançado seu Era uma Vez em Hollywood, Manga (o mais notável realizador do
estúdio) dirige esse tributo igualmente nostálgico, mesmo que curiosamente os
valores de produção associados com a produtora americana fossem da concorrente
da Atlântida, a Vera Cruz. Obviamente não se trata de efetivar uma leitura
crítica da produção do período e sua ressonância inegável na produção
brasileira posterior como tampouco de problematizar a relação do estúdio com a
produção americana, motivo de uma paródia tanto irreverente quanto prenhe de
complexo de inferioridade com relação aos seus modelos. A relação problemática
com a crítica, mesmo depois de tantos anos, ainda se faz presente nos
depoimentos de vários artistas e Norma Bengell dá o tom (por sinal buscado, sem
maiores efeitos, ser reproduzido no próprio documentário) ao falar que o melhor
da produção do estúdio “era não complicar nada, pois a vida já é complicada
demais”. Curiosa, e particularmente no que diz respeito ao caso dos números
musicais, a progressiva estetização é acompanhada por um estilo visual que se
afasta cada vez mais do teatro de revista brasileiro (como nas anárquicas e
mais ingênuas comédias de Watson Macedo) dando menos espaço ao gênero e quando
ocorrem canções, como no caso de Duas
Histórias (1960), de Manga, sua composição visual e dramática já se
aproxima mais das produções americanas. Aliás, Manga poderia ter tido o mesmo
espírito intérprido de parodiar o modelo americano, em vez de apenas imitá-lo
fielmente como é o caso no documentário em questão. Uma produção do gênero que
trata de seu material de forma não meramente nostálgica e institucional mais igualmente
paródica, é Assim Dançou o Comunismo,
que aborda a produção dos musicais do Leste Europeu que pretendiam fazer frente
aos da MGM. Atlântida Cinematográfica/Carlos Manga Prod. Cinematográficas. 105
minutos.
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