Filme do Dia: Dentro da Noite (1940), Raoul Walsh
Dentro da Noite (They
Drive by Night, EUA, 1940). Direção: Raoul Walsh. Rot. Adaptado: Jerry Wald
& Richard Macaulay, a partir do romance de A.I. Bezzerides. Fotografia:
Arthur Edeson. Música: Adolph Deutsch. Montagem: Thomas Richards. Dir. de arte:
John Hughes. Figurinos: Milo
Anderson. Com: George Raft, Humphrey Bogart, Ida Lupino, Ann Sheridan, Gale
Page, Alan Hale, Roscoe Karns, John Litel.
Joe Fabrini (Raft), juntamente com o irmão Paul (Bogart),
levam uma acidentada e explorada vida como caminhoneiros. Joe sonha com o dia
em que terão seu próprio negócio. Eles acabam sendo demitidos do serviço de um
patrão corrupto e recusam trabalhar para o ex-caminhoneiro e hoje bem sucedido
empresário Ed Carlsen (Hale), casado com a pérfida Lana (Lupino), obcecada por
Joe, para tentar o próprio negócio. Após o sucesso da primeira carga, em boa
parte direcionada para pagar os débitos do caminhão, acabam sofrendo um
acidente, no qual Paul perde um braço e Joe os sonhos de montar seu próprio
negócio. Por influência de Lana, Ed acaba contratando Joe para o escritório.
Aproveitando uma noite em que o marido chega demasiado bêbado e não consegue
sequer sair do carro, Lana fecha a garagem com o motor ligado. Tida como morte
acidental, ela acaba convencendo Joe a ser seu novo sócio. Joe, a muito tempo
apaixonado por Cassie Hartley (Sheridan), uma garçonete de beira de estrada que
pedira carona aos irmãos tempos atrás, passa a gerir os negócios, mas sempre
recusando os avanços de Lana que, enfurecida, conta-lhe sobre o crime
e o denuncia à polícia como cúmplice e suposto amante. No julgamento, sua
notória perda de razão põe por terra suas acusações contra Joe Fabrini.
Sua fotografia sombria e sua atmosfera algo misteriosa,
assim como a figura de Raft, recorrente nos filmes de gangster de idos da
década anterior, são algo evocativos dos não menos atmosféricos filmes franceses da tradição que ficou conhecida como realismo poético. Talvez o que mais chame
atenção no filme seja o quão visível fica a contraposição entre a dinâmica
relativamente complexa que agrega o núcleo dos personagens principais com a
evidente caricatura, já posta desde o início, do casal Carlsen, ele fanfarão,
idiota de bom coração e novo-rico, ela calculista, esbanjadora e sexualmente
insatisfeita. E é justamente na aproximação desses dois núcleos que o filme,
bem mais tardiamente que o habitual, irá definir os rumos de sua trama de forma
mais convencional. Inclusive infelizmente acomodando de forma bem mais
convencional os personagens de Raft e Sheridan, distintos justamente por sua
relativa e mesmo que involuntária indeterminação de caráter em sua ilibada
correção – o primeiro chega a cogitar fortemente abandonar a empresa e partir
novamente do nada para o trabalho de caminhoneiro ao final. Antecipa involuntariamente, de forma algo excêntrica – no sentido que
unilateral – a paixão feminina como fonte para a morte do marido de uma série
de filmes célebres posteriores tais como Obsessão
(1943), Pacto de Sangue (1944) ou Crimes d’Alma (1950). Warner Bros. 95
minutos.
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