Filme do Dia: Os Mil Olhos do Dr. Mabuse (1960), Fritz Lang

Os Mil Olhos do Dr. Mabuse (Die 1000 Augen des Dr Mabuse, Alemanha/França/Itália, 1960). Direção: Fritz Lang. Rot. Original: Fritz Lang, Heinz Oskar Wuttig, Norbert Jacques sob argumento de Jan Fethke. Fotografia: Karl Löb. Música: Gerhard Becker & Bert Grund. Montagem: Walter & Waltrault Wischniewski. Dir. de arte: Erich Kettelhut & Johannes Ott. Figurinos: Ina Stein. Com: Dawn Addams, Peter van Eyck, Gert Fröbe, Wolfgang Preiss, Werner Peters, Andrea Checchi, Marielouise Nagel, Reinhard Kolldehoff.
Após o assassinato de um jornalista, policiais começam a desconfiar da influência maligna de Mabuse, tido como morto em 1932. O investigador policial Kras (Fröbe) passa a se aconselhar com o médium cego Peter Cornelius (Preiss). A rica Marion Menil tenta o suicídio do alto do Luxor Hotel, sendo salva pelo verdadeiro repórter Henry Travers (van Eyck). Henry se apaixona por Marion, que é tratada pelo fiel médico Dr. Jordan. Kras sofre uma tentativa de homicídio, que mata seu secretário. Na mesma semana, ele, sua esposa,  Marion, Travers e o agente de seguros Mistelzweig (Checchi) se reúnem numa sessão mediúnica que quase finda na morte de Krass. Mistelzweig descobre que a cegueira de Cornelius é falsa. Enquanto isso, Marion, ferida, é aprisionada com Travers em um porão secreto do hotel, revelando-lhe que tudo fora uma farsa para que ela cassasse com ele e se apoderasse de sua fortuna depois de mata-lo. Do porão, Cornelius/Dr. Jordan possui dezenas de câmeras espalhadas por todo o hotel, vigiando todos os passos de quem lhe interessa. Fugindo das barreiras policiais que o perseguem, Jordan, um discípulo das idéias de Mabuse, cai com seu carro e seu assecla mais importante em um rio. Travers ainda consegue escutar uma declaração de amor suspirada de Marion no hospital antes de sua morte.
Filme-testamento de Lang, em que o realizador retorna a temas caros ao longo de sua carreira, assim como seu personagem mais célebre, presente no filme em duas partes Dr. Mabuse, o Jogador (1922) e em O Testamento do Dr. Mabuse (1932), além da meia-dúzia de longas produzidos após esse filme de Lang, realizados por outros diretores até o início da década seguinte. Como nos seus filmes mudos, o mesmo senso de paranoia e de ausência de personalidades fixas, de falsas pistas, que o aproximam da obra de Orson Welles. Somente um bom tempo depois se descobre quem é Travers, que Marion se encontra a serviço da organização criminosa, que o Dr. Jordan e Cornelius são a mesma pessoa, e mais evidentemente, que o agente de seguros é, na realidade, um policial da Interpol. Lang, retornando igualmente a boa parte de sua produção muda, mimetiza tal e qual seus personagens, sob o manto de uma banal história de espionagem, questões bastante relevantes. Sendo a mais notável de todas – e da qual o realizador faz uso pioneiro – o dos próprios monitores de vídeo como formas de controle e poder, décadas antes que o tema se tornasse discutido em teses acadêmicas e políticas governamentais de segurança. Enquanto a imagem cinematográfica fora fundamental para desmascarar o erro coletivo perpetrado pela justiça em um de suas produções americanas mais célebres, Fúria (1936), a imagem aqui surge como elemento-chave para a perpetração da própria farsa e de um voyeurismo mórbido (bastante semelhante ao utilizado por programas televisivos de 3 décadas após). Seqüência fundamental nesse último sentido, é a que um funcionário do hotel apresenta uma janela que serve como monitor de imagem para o quarto vizinho, e permite Travers flagrar uma Marion semi-despida – sendo que o tema do voyeurismo perverso sido igualmente abordado por outra  produção contemporânea, A Tortura do Medo (1960), de Michael Powell. Ambos os realizadores certamente fazem uso consciente e irônico da própria referência ao espectador de cinema/voyeur. CEI Incom/CCC/Critérion Film para Omnia Deutsche Film Export. 105 minutos.


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