Filme do Dia: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), Gláuber Rocha
O
Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (Brasil/França/Al. Ocidental, 1969).
Direção e Rot. Original: Gláuber Rocha. Fotografia: Affonso Beato. Montagem:
Eduardo Escorel. Dir. de arte: Glauber Rocha. Cenografia: Hélio Eichbauer,
Paulo Lima & Paulo Gil Soares. Figurinos: Hélio Eichbauer, Paulo Lima,
Paulo Gil Soares & Glauber Rocha. Com: Maurício do Valle, Odete Lara, Othon
Bastos, Hugo Carvana, Jofre Soares, Lorival Pariz, Rosa Maria Penna, Emmanuel
Cavalcanti, Vinícius Salvatori, Mário Gusmão, Santi Scaldaferri, Conceição
Senna.
Antônio das Mortes (Valle), matador de cangaceiros
aposentado recebe o convite do Coronel Horácio (Soares) para matar um
cangaceiro que surge com um séqüito de seguidores, Coirana (Pariz). Com a morte
de Coirana em duelo, o matador se transforma em uma figura cada vez mais
atormentada com a pobreza do povo e se torna entusiasta da Santa (Penna),
figura mítica que faz parte do grupo que se encontrava com o cangaceiro morto.
Na cidade, Coronel Horácio descobre que sua mulher, Laura (Lara) o trai com o
delegado Mattos (Carvana). Laura instiga Mattos a assassinar o Coronel, mas
esse não tem coragem de praticar o ato. Laura, escorraçada pelos capangas do
Coronel assassina ela mesma Mattos. Antonio das Mortes afirma que a única
possibilidade de não se bandear para o lado oposto é se Coronel Horácio for convencido
a doar os mantimentos de seu comércio para os retirantes do bando de Coraina.
Com a recusa do Coronel, Antonio das Mortes e o professor (Bastos) se enfrentam
com os homens do Coronel e vencem, sendo o Coronel e Laura mortos.
Último filme do cineasta rodado no Brasil antes de
prolongado exílio, pode ser considerado vagamente como uma continuação de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964),
ao menos no que diz respeito ao personagem de Antônio das Mortes.
Impressionante pela mescla entre uma certa epicidade operística e elementos da
cultura popular já presentes em sua produção anterior. Nesse sentido são
determinantes a interpretação anti-naturalística do elenco e as canções de
viola que comentam as ações dos personagens. Há igualmente um cuidado
particular com as cores (trata-se do primeiro filme em cores do cineasta) e com
as locações enquanto elementos dramáticos de grande potencial, assim como a
utilização de planos de proporções monumentais. A beleza dos enquadramentos são
de intensa carga pictórica, compondo muitas vezes verdadeiros tableaux que apenas realçam a
intensidade dos mitos que faz menção, representativos seja da religiosidade
popular, do coronelismo ou do cangaço. Ideologicamente, o filme apresenta uma
tomada de consciência por parte do personagem de Antônio das Mortes bastante
semelhante das ocorridas por certos personagens de justiceiros nos últimos
faroestes de John Ford. Tomada que igualmente leva o personagem do professor a
lutar com as armas e não apenas com seu saber, num provável aceno para a
situação política contemporânea no país. Aliás, um dos mais belos planos do
filme é o que sela o pacto entre o matador de cangaceiros e o professor,
apresentando-os próximos um do outro e com o olhar direcionado para a câmera,
evocativos de planos igualmente intensos como os das protagonistas de Matou a Família e Foi ao Cinema (1969),
de Bressane. Sua seqüência final demonstra a iniquidade da figura e dos valores
de um personagem como Antônio das Mortes em um universo de auto-estradas,
veículos motorizados e postos de gasolina. Trata-se do filme do cineasta de
maior acolhida no mercado internacional e vencedor do prêmio de melhor direção
no Festival de Cannes. Antoine Films/Cinémas Associes/Gláuber Rocha Com.
Artísticas/Munich Tele-Pool/Mapa. 100 minutos.
Excelente filme.
ResponderExcluirUma bela herança que herdamos (quem aprecia uma boa arte, é claro), do Glauber.
Valeu Cid.
Um abraço.
Valeu Beth...correria grande por aqui...agora que vi teu comentário. Fiquei bem triste com a morte do Brandt e lembrei de você, afinal seu blog tem justamente o título de "Travessia", uma das grandes composições dele e de Milton. Beijos.
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